domingo, 28 de dezembro de 2014

Minha RETROSPECTIVA 2014.


     Acho que antes de começar a listar as coisas importantes que me aconteceu durante o ano, devo mencionar os planos que tinha feito para este ano no final do ano passado:

1- Iria investir em primeiro lugar na minha banda de pop rock, com composições próprias.
2 - Formatar e revisar meu livro “Doze dias sem ver o sol” e mandá-lo para pelo menos três editoras.
3 - Tentar encontrar uma mulher para termos filhos. (Fácil essa, não?).
4 - Sair da casa dos meus pais, já que a minha estava quase pronta (nem que fosse no dia trinta e um de dezembro).

  1 - Bem, eu me esforcei muito e consegui comprar os instrumentos e montar a banda. Já tinha decidido que essa seria minha última tentativa de ter uma banda. Começamos a ensaiar em fevereiro, geralmente no sábado e domingo de tarde. Posso dizer que cheguei a acreditar que daria certo. Estava bem feliz. Me diverti muito com os ensaios dos dois primeiros meses. Claro que como todas as outras vezes que montei banda, (umas cinco, eu acho) a coisa começou a desandar. Mesmo assim, até o começo de maio vivi alguns momentos bons. No fim de julho decidi acabar. Mas tenho que ser sincero: Foram momentos muito bons, de muita felicidade pessoal, arrisco a dizer que foi o melhor outono que tive em toda a minha vida. E olha que já vivi mais de trinta outonos!
     Então por que acabou, por que desistir de um sonho? A verdade é que não convivo muito bem com pessoas (Maldita síndrome de Asperger!). Sou muito certinho e gosto que tudo funcione. E minha mente tá sempre cobrando resultados e novidades. E fico paranóico, e não gosto de cobrar nada de outras pessoas. E além disso tudo, tava com uns problemas pessoais no trabalho desde o começo do ano, e acabei me demitindo em junho. Estava depressivo e tudo me influenciou, achei melhor acabar com a banda. Mas presenteei cada integrante com o instrumento que tocava, não queria que eles ficassem com raiva de mim. Acho que deu certo.
     Quase dois meses depois cortei meu cabelo. Das vezes que o deixei crescer, foi o maior comprimento que consegui.

 2 -  Bem, revisei meu livro (li várias e várias vezes, até que na última não encontrei nenhum erro – apesar de saber que deve ter alguns ainda) e formatei e já era final de março. Não perdi tempo, imprimi as duzentas e quarenta e quatro páginas e mandei para o escritório de direitos autorais. (No site deles dizia que eu devia esperar noventa dias no mínimo para receber a documentação, caso eu tivesse enviado tudo certinho).
     Das editoras que eu me interessei, só três delas aceitava “analisar” texto de novos autores e pediam um mínimo de noventa dias também. Decidi esperar um mês (claro que eu sabia que em um mês não teria ainda os direitos autorais pela lei em minhas mãos, mas também sabia que nenhuma editora ia me responder em um mês e querer publicar o livro tão rápido. Eu sei que leva tempo, e até lá pensei que já teria recebido a documentação).
     Então no final de abril enviei meu texto para a editora “que eu mais queria”, duas semanas depois para “a segunda da minha lista” e na outra semana para “a terceira da minha lista”, essa aceitava envio via internet, o que achei ótimo. Para a minha surpresa, foi a primeira a responder, (um pouco antes de completar um mês desde que eu enviara) já enviando um contrato, que pelos termos eu não pude aceitar, pois entre outras coisas, exigia que a correção profissional fosse paga por mim, o que daria no mínimo mil e duzentos reais. (Eu desempregado, já devendo a quase todos os meus parentes... Sem chances). Mais fiquei muito feliz deles terem gostado da estória, e cheio de esperança que uma das outras duas também gostasse.
     Passou quase dois meses e recebi uma negativa da segunda editora. Fiquei na expectativa de receber uma resposta da “que eu mais queria”, a primeira para quem eu enviei. “Eles devem receber muitos texto", dizia para mim mesmo após ver nos e-mais que ainda não tinha uma resposta e me tranquilizar”.
     Bem, estamos no “finalzim” de dezembro e não recebi respostas deles. (E nem do escritório de direitos autorais (tentei ligar várias vezes e só dá ocupado!).

 3 -   Tive um ano de momentos bons, mas também alguns muito ruins. Posso dizer que não me lembro de ter vivido um inverno tão ruim como esse, e olha que já vivi mais de trinta invernos!
     Eu não sei o que há de errado com o meu coração, não consigo me apaixonar por ninguém. Ninguém mesmo, independente da sexualidade, que fique bem claro! 
     Talvez eu seja careta demais, certinho demais. Mas não é qualquer uma que vou querer para ser a mãe dos meus filhos. Não quero só fazer filhos ou adotar, quero ter, criar, cuidar. Viver/envelhecer com e para eles, compartilhando tudo com uma mulher que nunca encontro, e cada vez parece ser mais difícil encontrar. Sou muito mais complicado do que aparento, e sabendo que vou magoar alguém, ou ser magoado, (Maldita síndrome de Asperger e maldita inteligência – se eu não soubesse da maldade humana, das verdades da vida, minha vida seria mais fácil) prefiro não ir em frente, acabar com o relacionamento pouco depois de começar.

     Depois do talvez pior inverno da minha vida, fiquei um tempo meio vegetando, sem planos, sem correr atrás de nada. Quando fico meio depressivo não faço quase nada e como muito mais. Minhas bermudas começaram a ficar apertadas. Felizmente sou atento, e geralmente quando isso acontece, diminuo o consumo, mas dessa vez decidi fazer diferente: Pesquisei vídeos de exercícios físicos na internet e separei três que achei interessantes e que podem ser feitos em casa (Sempre evito lugares públicos, academias, shoppings, etc). No final do inverno comecei a reagir de verdade: Abdominais, flexões e exercícios para desenvolver os bíceps, quatro vezes por semana.
   Na terceira semana, meus braços começaram a mudar. (Eu sempre tive vergonha dos meus braços compridos e finos). Bem, meus braços começaram a ficar bonitos e no segundo mês me peguei (coisa que eu nunca tinha feito) tirando selfies no espelho. (Claro que tenho simancol e não publiquei no Face). Só que no fim de novembro, acabei relaxando. (Mas não chego a passar uma semana sem me exercitar, e já prometi que no próximo ano vou pegar pesado). Meus braços e o peitoral estão começando a ficar bonitos, mas não consegui definir o abdome, o que é uma frustração, mas é justamente isso que me faz ter vontade de pegar pesado, e vou começar assim que o ano começar! (Claro que não espero que ter um corpo mais definido atraia a mulher que procuro, mas é sempre bom ver quando elas olham com desejo, mesmo que não passe disso).

4 -  Bem, como tive certas dificuldades, e ainda estou desempregado, sei que é impossível eu ir morar na minha casa ainda esse ano, então, (não sei até quando) continuarei morando na casa dos meus pais.


Obs.: Tirando a banda, vou continuar lutando para realizar os outros planos.
          Talvez esse seja o último POST desse ano. (E ainda nem divulguei esse blog, coisa que espero fazer no começo de 2015).

  

domingo, 21 de dezembro de 2014

Porque idolatrar?


     Ontem um brasileiro ganhou um campeonato mundial de surf, e como é costume, virou o novo queridinho, o novo ídolo. Teve até um comentário na tevê sobre “termos perdido a copa do mundo em casa e aí o cara sai e conquista um título desses” - como se isso fosse mudar a vida de alguém não ligado a ele.

     Eu nunca entendi porque as pessoas sentem essa necessidade de idolatrar outras. Desde adolescente, quando comecei a curtir o som que algumas bandas faziam, nunca aceitei essa ideia de idolatrar alguém. Para mim sempre foi o trabalho do cara. Seja música, arte, ou esporte, é só um trabalho.

     Lembro que há poucos meses um conhecido meu que é fã do Cazuza começou a falar demais, e aí eu disse as verdades que ele precisava ouvir: 
   “O Cazuza era criativo, mas nem era a melhor voz da época dele, muito menos um exemplo de pessoa. Se você se informasse um pouco, ia ver que ele desrespeitava a lei, a família,os amigos, os fãs. E essa estória atual de que ele foi um herói assumindo que tava com AIDS é mentira. Ele tentou esconder o máximo que pode, quando não tinha mais como esconder, ele revelou. Como pessoa ele era um belo exemplo do que não se deve ser, isso sim!” A mãe dele é uma pessoa que poderia ser idolatrada. 
(Obs.: eu curto o trabalho do cara, até toco algumas músicas, mas não entendo como tanta gente idolatra pessoas que não são corretas). 

     Afinal, porque idolatram pessoas que pela lógica, não deveriam ser idolatradas? (E geralmente idolatram pessoas que estão ganhando muito dinheiro, sem perceber que eles mesmos estão pagando a conta, quando vão para um show, ou jogo, ou compram um produto).

   Se pensar um pouco, quem foi mais importante para a sua vida:
- Sua professora de português ou o cantor daquela banda que você gosta há tanto tempo?
- O motorista do ônibus que te leva e te traz, ou seu ídolo do esporte?
- O médico que lhe atendeu quando você adoeceu, ou aquele(a) artista?

   Pense bem, quem é mais importante para a sua vida, o gari que recolhe o lixo ou : Neymar, Roberto Carlos, Ayrton Senna, Pelé, Silvio Santos , ou algum outro artista ou atleta?  

    Porque idolatrar pessoas que cobram muito por um serviço dispensável em vez de escolher alguém que realmente faz um serviço essencial para maioria das pessoas, não só por alguns poucos?

     Sei que sou careta, sou chato, mas não tenho ídolos. Gosto do trabalho que algumas pessoas fazem, mas não acho que isso fazem delas melhor (nem pior) que outras pessoas.


   

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O que mata os sonhos?


 Dias atrás me peguei pensando nas principais coisas possíveis por matar os sonhos das pessoas. Eu acredito que todo mundo quando era criança tinha no mínimo um sonho, e que a maioria dos adultos nem se lembram (ou fingem não lembrar) dele.

   Ser jogador de futebol, artista de tevê ou cinema. Dançarina, bailarina ou simplesmente professora... Ser um astronauta, policial ou caminhoneiro...

   Seja qual grandioso ou não o sonho, a verdade é que a grande maioria das pessoas não o realizaram.

   Mas afinal, o que é capaz de matar um sonho? De nos fazer desistir de algo que quando éramos criança parecia ser para nós a coisa mais importante a ser conquistada?

   Acho que a primeira coisa é o dinheiro. Quando estamos chegando aos dez anos, antes mesmo de conhecermos o amor ou o sexo, somos enfeitiçados pelo dinheiro. A vontade de ganhar muito dinheiro na maioria das vezes nos faz esquecer aquele sonho e começar a pensar em uma profissão. Simplesmente achar que é difícil ganhar dinheiro com aquilo que sonhamos ser, ou que não teremos dinheiro para pagar os custos daquele sonho. Sonhar poder custar caro, e às vezes, realizá-lo seria muito mais caro ainda!

   A segunda coisa é o desejo sexual. (Apesar de alguns chamá-lo de amor). O desejo sexual sempre fala mais alto, e a maioria das pessoas que não desistiu dos sonhos por causa do dinheiro, geralmente acabam caindo nessa armadilha. (Às vezes pode até ser uma coisa boa, pelo menos garantimos mais humanos no planeta). 
   A verdade é que quando descobrimos o sexo, parece que é a coisa mais importante do mundo, e aí já era. Passamos a viver sem se preocupar se haverá ou não um amanhã, o importante é ter alguém para curtir o momento, e na maioria das vezes, por descuido ( ou burrice mesmo!) a menina engravida e lá se foi o sonho de ser alguma coisa na vida; e o importante passa a ser ganhar dinheiro para pagar as contas.

   Há ainda o medo, um preconceito que todo ser humano carrega de que fazer aquilo pode não agradar aos outros ou pelo menos a alguém em especial. (Claro que hoje em dia isso já diminuiu um pouco, e podemos ver meninas ganhando dinheiro para jogar futebol, e meninos dançando balé, entre outros tantos sonhos que talvez a cem anos atrás fosse impossível até imaginar que aconteceria).

   É claro que há exceções, mas exceção é sempre um número muito pequeno de alguma coisa. A verdade é que a grande maioria dos adultos, não conseguiu realizar seu sonho, alguns até eram bem simples. O fato é que depois de um tempo trabalhando em algo que não se gosta - mas precisa do dinheiro - vive se estressando e tratando mau aos outros, e no fundo, a si mesmo. 
   Mas lógico que ninguém vai se assumir infeliz. Estamos bem! (Ou não?).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

História 006 - Formilka

  (Da série histórias infantis)

 Era uma vez um mundo chamado Insetolândia onde os habitantes eram insetos inteligentes.
    Eles viviam como gente, conversavam entre sim, usavam roupas, tinham meios de transportes, casas e edifícios, comidas, músicas e esportes.
    Eles até dançavam e faziam bolhas de sabão... E aviõezinhos de papel.

 Formilka - O lápis mágico 
                                            Neto Sanville       


                 
     Formilka era uma formiguinha de quase sete anos muito criativa e alegre. Ela morava com o seu irmão de dez anos, a mãe e o pai numa casinha toda feita de barro avermelhado, que ficava dentro de Formigueiro City, uma das cidades que formavam o mundo chamado Insetolândia.
  
     Ela tinha começado a estudar há pouco tempo, e estava encantada com os desenhos que podia fazer com o lápis nas folhas de seu caderno. A professora ainda estava ensinando as primeiras letras, mas ela gostava mesmo era das aulas de desenho.

     Mas ela era muito pobre, não tinha lápis coloridos nem tintas, e o seu lápis escrevia tudo da mesma cor, um cinza quase preto.

     Foi na terceira semana de aula que ela descobriu que seu lápis só riscava bem em papeis ou em materiais parecidos. Formilka ficou enfurecida quando tentou fazer um desenho na parede de barro vermelho no seu quarto, mas o lápis só escavava a parede. Sua mãe entrou no quarto e viu que ela estava de cara feia, e depois que Formilka contou o acontecido, sua mãe disse:
- Mas filha, os lápis são feitos para escrever no papel, especialmente nos cadernos. E é muito caro, você não pode ficar gastando ele em qualquer besteira.
- Não, mãe, eu não ia fazer besteira, eu ia desenhar um desenho bem bonito na parede.
- Filha, você não pode riscar as paredes.
- Eu sei, esse lápis não presta!
- É que ele foi feito para riscar no papel. Por que você não faz um desenho num papel? Depois damos um jeito de pendurar ele na parede.
- Mãe, eu já sei o que vou pedir no meu aniversário antes de assoprar as velas! Um lápis que risque qualquer coisa!
- Ora, Formilka, isso não existe! E agora que você contou o pedido, não vai funcionar...
- Puxa, é mesmo! A não ser que eu peça para o Papai Noel... Mas ainda falta muito para o Natal...
- Hum, por que você não vai brincar com as suas bonecas? Deixe esse lápis para usar só na escola. Foi para isso que ele foi feito.
- Então eu posso ir para a casa da minha prima?
- Pode sim, eu fico na porta olhando.

     Formilka saiu de casa e sua mãe ficou olhando. A casa da Mygaele (a prima dela, filha da irmã da mãe) era a vinte passos da sua casa, e logo ela chegou lá.

     Brincaram de boneca o resto da tarde, e depois que voltou para sua casa, Formilka perguntou de novo a sua mãe todos os doces que iria ter na sua festa de aniversário, e sua mãe mais uma vez disse:
- Vai ter tudo o que você gosta: Brigadeiros, pudins, cajuzinhos, beijinhos de coco....
- E pedaços de maçãs e uvas carameladas?
- E torrões de açúcar, e gigantescos pedaços de rapadura. E todos os seus amiguinhos que você gosta virão!

    Formilka ficou feliz e ansiosa, e quase não dormiu naquela noite, contando repetidas vezes quantos dias faltavam ainda para o seu aniversário.

     De manhã o dia parecia igual aos outros, mais foi quando ela estava no recreio, que ouviu uma voz sussurrada chamando seu nome. Procurou e não viu ninguém. Olhou para cima e suspeitou que a voz vinha da flor branca. Ela perguntou:
- Você é uma borboleta ou uma joaninha? Eu não estou lhe vendo, apareça!

    E foi nessa hora que apareceu a dona da voz, voou da flor até o chão onde Formilka estava, e foi quando ela viu que não se parecia com nenhum dos insetos que ela conhecia, então Formilka perguntou:
- Afinal, o que é você? Não se parece com ninguém que eu conheça!
- Eu sou a fada dos sonhos! Posso realizar qualquer sonho seu!
- Qualquer um mesmo?
- Sim, pode pedir.
- Eu queria... ...Não, isso não! Eu quero um lápis que risque em todas as coisas que existe!
- Nossa, mas isso é muito complicado!
- Eu sabia, você não consegue!
- Eu consigo sim, mas é que pode ser muito perigoso. Está bem. Eu vou lhe dar um lápis que risca em qualquer coisa, e antes de riscar, você pensa numa cor, e riscará da cor que você pensar.

    E aconteceu uma explosão silenciosa de luzes coloridas, e lá estava o lápis mágico na mão da fada. Formilka gritou feliz “Oba, agora posso desenhar onde eu quiser!” e esticou as mãos para pegar o lápis, mas a Fada dos sonhos disse:
- Espere um pouco. É importante que saiba que não deve sair riscando tudo por aí. Tudo bem fazer um desenho numa pedra, ou numa árvore, mas não desenhe nas paredes, nem nas roupas do varal, em nada que não seja seu. Peça ao dono para fazer um desenho, se ele ou ela deixar, faça. Coisas muito ruins podem acontecer se você não usar o lápis direito. Lembre-se que ele risca em tudo que existe, e ficará lá para sempre, não pode ser apagado. Você entendeu?
- Sim!
- Está bem, tome seu lápis mágico.

    Assim que entregou o lápis, a Fada dos sonhos saiu voando e Formilka quis logo testar o lápis mágico, que era transparente, como se fosse de vidro. Ela se aproximou de uma pedra e disse sorrindo “Vamos ver se funciona” e tentou desenhar uma flor. Não aconteceu nada, nenhum desenho aparecia na pedra; então ela ficou furiosa e disse em voz alta: “Aquela fada me enganou, não funciona!” e foi quando sua prima apareceu e perguntou o que não funcionava. Formilka contou a estória da fada e mostrou o lápis transparente. Sua prima Mygaele disse:
- E você pensou numa cor antes de fazer o desenho?
- Não!
- Então, por isso que não riscou. Você não disse que a fada falou para pensar numa cor antes de desenhar?
- Foi.
- Então, tenta de novo!
- Está bem, eu quero que o lápis risque vermelho!

    Mal terminou de falar vermelho, Formilka viu que o lápis mágico agora estava vermelho. Ela ficou feliz, e pensou que poderia escolher qualquer cor que existe, e quando pensou nas cores, o lápis ficou de todas as cores que ela tinha pensado.

   Formilka pensou no preto, e o lápis ficou preto, então ela quis ver se riscava em qualquer coisa mesmo, e desenhou uma flor de cinco pétalas numa pedra, e o sol numa das folhas da grama. E pensou na cor amarela e coloriu o sol desenhado na folha da grama. Pensou na cor vermelha, e coloriu as pétalas da flor que havia desenhado na pedra.

     Estava se divertindo tanto que nem viu o tempo passar. Logo estava de volta na sala de aula, depois já estava em casa jantando, e mostrou e contou a estória do lápis mágico a todos, e sua mãe lhe disse que ela tinha que ter cuidado, que perguntasse sempre se podia desenhar no que quer que fosse antes de sair desenhando em tudo.

  Passou três dias e o lápis fazia muito sucesso. Dois amiguinhos da escola seguraram outro e mandaram Formilka desenhar bigodes azuis nele, e Formilka achou aquilo tão engraçado que esqueceu os avisos da Fada dos sonhos e de sua mãe. Quase todos os alunos riram do pequeno formiguinha com bigodes azuis, e quando a professora tentou lavar, os bigodes não largavam mais. Formilka lembrou que a Fada tinha dito que a tinta do lápis mágico duraria para sempre.
  
    A professora chamou os pais de Formilka, que ficaram muito decepcionados com ela. A mãe disse: “Onde já se viu, pintar bigodes azuis no coleguinha? Isso não se faz!”. O pai disse que ia na casa do formiguinha pedir desculpas aos pais dele. A professora proibiu Formilka de levar o lápis mágico para a escola, e disse que ela ficasse em casa por dois dias, pensando no que fez.

     Formilka não queria nem brincar com a prima, passou os dois dias pensando em cores diferentes e fazendo vários desenhos, e no segundo dia já tinha usado todas as folhas do seu caderno. E se sentou no sofá com cara de raiva. A mãe dela perguntou o que estava acontecendo, e quando ela contou, a mãe dela falou:
- Por que você fez isso? Agora tenho que sair para comprar um novo caderno para você estudar amanhã! Vou perder meu tempo, e seu pai não vai gostar de gastar dinheiro com um caderno novo!
- Mas foi a senhora que me proibiu de riscar outras coisas, disse que eu desenhasse só no caderno.
- Sim, mas não pensei que você fosse desenhar em todas as folhas do caderno! Tá, você pode desenhar em outras coisas; nas pedras, nas folhas, nos troncos de árvores, no chão; mas me prometa que nunca mais vai desenhar em ninguém!   
-Sim, eu prometo.

     A mãe dela saiu para comprar um novo caderno e ela saiu para desenhar nas coisas.

    Passara cinco dias, tudo estava bem, faltava só quatro dias para sua festa de aniversário, e ela estava muito feliz. Tinha chegado da escola, sua mãe estava na cozinha e ela sentou-se no sofá e ficou pensando na sua festa. Estava distraída, e com o lápis mágico, que carregava sempre consigo, menos quando ia para a escola. Num momento de distração, começou a fazer desenhos no sofá. E gostou. Fez muitos desenhos, e se surpreendeu com a voz do seu pai que acabara de chegar do trabalho:
- Formilka, o que você está fazendo? Formine, vem ver o que a sua filha fez no sofá que eu ainda devo oito prestações!

     E foi uma discussão dos pais. Formilka ainda disse que foi sem querer, mas como a tinta não largava de jeito nenhum, o pai dela disse que tinha que trocar o revestimento do sofá, e que usaria o dinheiro de fazer a festa de aniversário dela, portanto, não teria mais festa! A mãe dela ainda tentou convencê-lo a não fazer isso, mas não teve jeito, ele disse que esse ano, por ter riscado o sofá todo, Formilka não teria sua festa de aniversário!

     Formilka correu para o seu quarto e se jogou em cima de sua cama, e chorou muito. Chorou como nunca tinha chorado em sua vida, e só parou porque ouviu sua mãe mandando ela acordar. Assim, ela abriu os olhos lacrimosos ainda sem entender o que estava acontecendo, e ouviu sua mãe dizer:
- Calma, filhinha, você estava tendo um sonho ruim, já acabou!
- Foi só um sonho? Não tem lápis mágico?
- Lápis mágico? Não querida, você estava sonhando.

     Formilka enxugou os olhos e ficou feliz, tinha sido só um sonho ruim, ainda teria sua festa de aniversário. E dias depois, ela se divertiu muito na festa com os amiguinhos. Ganhou muitos presentes, roupas e bonecas, e quando abriu o presente que os pais dela tinham comprado, foi que ficou mais feliz ainda: Era um caderno de desenho e uma caixa de lápis com lápis de trinta e seis cores. E ela disse:
- Eu prometo que só vou desenhar no caderno, nunca vou riscar os móveis, nem as roupas, e nem os outros!

     E a mãe dela:
- Querida, esses lápis só riscam papéis.
- Ah! Que bom. Melhor assim.
   
    E todo mundo riu muito, e cantaram os parabéns.

                                         Fim



sábado, 13 de dezembro de 2014

Um cara foi assassinado perto da minha casa.


   Eu estava na minha casa esperando que o cara da vidraçaria fosse colocar um dos vidros da minha janela, coisa que espero há mais de um mês e ele me enrolando; mas hoje quando passei lá às nove da manhã ele disse que ia de certeza. (Pior que essa é a segunda vez que procuro os serviços deles, e na primeira vez eles atrasaram; mas como acho que todo mundo merece uma segunda chance... E eu já deixei pago, há mais de um mês isso).

   Então estava esperando desde nove e meia, e quando estava indo para a cozinha, ouvi cinco tiros. Tinha acabado de olhar as horas no celular e eram onze horas e um minuto.

   A minha casa fica próxima a pista principal, e depois da minha tem só mais duas e é a esquina, onde recentemente abriram um bar. Do outro lado da rua do bar tem dois campos, e o cara do bar tinha colocado umas mesas com cadeiras embaixo de uns coqueiros que tem entre a rua e o campo.

   Mesmo antes de sair para olhar, já ouvi as pessoas falando: “Ele fugiu por ali, fugiu de bicicleta, eu vi quando ele sacou o revólver, é muita ousadia” e sai de casa e vi que as pessoas já corriam para ver o corpo esticado no chão. E ouvi o dono do bar esbravejar: “Se eu tivesse um carro agora eu corria atrás daquele desgraçado e atropelava ele!”. E continuavam vindo pessoas de todos os lados, e eles eram tão rápidos que eu nem consegui ver o corpo, mesmo estando a uns sessenta ou setenta metros de distância.

  Na verdade não tenho a menor curiosidade de ver pessoas mortas, principalmente quando julgo (preconceituosamente talvez) que se trata de um bandido. Acho meio difícil um inocente morrer assim. Cinco tiros. Dois, uma pausa e outros três. E o pior e que os meus futuros vizinhos saíam de suas casas e passavam por mim com um olhar que parecia dizer “Ué, você não vai ver o cadáver?”. E se algum deles me perguntasse isso, (juro que pensei na hora nessa hipótese que) responderia “não. Se fosse pessoas fazendo sexo ou algum animal parindo,ou algo que parecesse divertido; talvez não resistisse em ir olhar, mas não tenho nenhum prazer em ver gente morta”. Entrei em casa.

   Passou quinze minutos quando a sirene da polícia anunciou que estavam chegando. Mas uns dez e eu subi as escadas e fui ver pela janela como estavam as coisas. Incrível, tinha tanta gente, que não passaria um carro na rua. E o que me deu vontade de rir foi ver três moleques correndo, vindo de longe lá das ruas que ficam por trás dos campos, desesperados talvez com medo de não chegar a tempo de ver o cadáver. Voltei, desci as escadas, peguei de novo meu celular e fiquei jogando enquanto esperava o cara da vidraçaria.


   Meio dia e cinco saí na rua, agora havia poucas pessoas, mas se brincar, ainda tinha umas cinqüenta um pouco afastadas, nas calçadas. Agora dava para ver o corpo coberto por um pano marrom, e dois policiais e uma policial ao lado do carro deles. E o cara dor bar virava os churrascos na churrasqueira como se não tivesse acontecido nada?!? Entrei em casa de novo. 

   Alguns minutos depois, subi as escadas, dei uma olhada rápido, fechei as duas janelas e desci novamente. Fechei a porta da cozinha, me certifiquei que todas as luzes estavam apagadas. Era meio dia e dez. Decidi esperar mais um pouco. Minha paciência acabou dez minutos depois, e decidi voltar para a casa dos meus pais. Fechei a porta e o portão e me mandei.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

História 005 - Glória

  Glória (Histórias do orfanato raio de sol)
                                                  Neto Sanville



_______________________________ Parte 01

     Era um pouco mais de quatro horas da tarde da primeira quinta feira de dezembro de mil novecentos e oitenta e seis. A Irmã Penélope saiu da cozinha e Fernanda se aproximou de glória e disse quase num sussurro:
- O que está acontecendo com você? Faz três dias que você está assim. Não adianta dizer que está bem, pois não está mesmo!
- Nanda, eu... Não posso falar sobre isso.
- A Terezinha está aprontando alguma? Me conta, eu acabo com ela!
- Não! Tá bem, o meu irmão... desde que ele começou a trabalhar que ele tá com uma ideia da gente fugir...
- O quê? Isso é loucura!
- Eu sei...
- E pra onde vocês vão? Não, vocês não podem fazer isso.
- Ele disse que se eu não for junto, talvez nunca mais o veja, que ele vai sozinho.
- Glória, vocês não podem sair daqui assim... Vocês só tem quinze anos. Como é que vocês vão viver?
- Eu não sei. Na verdade, no começo achei que fosse uma boa idéia, mas agora começo a ficar com medo.
- Mas... Quais são os planos dele? Quer dizer, vocês vão simplesmente sair por aí?
- Eu vou tentar conversar com ele de novo. Ele está tão decidido... Olha, por favor não conta a ninguém.
- A quem eu contaria? Depois que a Anabela foi embora, você é a minha única amiga.
- Eu não quero mais falar nisso.
- Está bem, mas saiba que pode contar comigo.
     A Irmã Penélope voltou e elas continuaram a descascar as verduras para a sopa em silêncio. No outro dia de manhã, enquanto cuidavam do jardim; Fernanda perguntou como ela estava e ela disse que ainda não tinha conversado com o irmão. Fernanda foi ajudar a Irmã Júlia a cuidar de uma pequena órfã que caiu e estava chorando, e Terezinha se aproximou de Glória, que fingiu não vê-la. Terezinha falou em tom provocativo:
- Eu vou descobrir o que vocês duas estão tramando. Eu percebi que tá acontecendo alguma coisa, e eu vou descobrir o que é.
     Glória fingiu que não escutou, e Terezinha falou que ia ficar de olho nelas, e saiu. Glória pensou que ao menos quando fugisse, não precisaria mais conviver com Terezinha, isso seria uma coisa boa.
     Depois do almoço Glória se aproximou do irmão que estava sentado na calçada, ao lado da porta do orfanato, olhando alguns dos órfãos jogando bola no jardim. Ela sentou ao lado dele e disse quase num sussurro:
- E então, Bruno; pensou melhor?
- Tá decidido, Glória. Vou receber amanhã à tarde, mas não vou voltar pro orfanato. Você me encontra onde eu falei e a gente vai embora daqui.
- Bruno, eu tô com medo...
- Glória, eu já falei que é melhor assim. De qualquer forma, a gente vai ter que sair daqui mesmo e cuidar das nossas vidas...
- Mas, isso é daqui a quase três anos...
- Temos que ir amanhã.
- Mas... A gente não tem nem muita roupa... E os nossos documentos que estão com a Madre? E como é que a gente vai estudar?
- Isso tudo a gente resolve com o tempo. Olha, não precisa ter medo. A gente não vai morrer de fome. Tá, eu sei que vai ser difícil no começo, mas... Eu vou trabalhar em qualquer coisa se o nosso plano não der certo. Até você pode trabalhar. A gente vai se virar.
- Não sei, eu tô com muito medo.
- A maior parte das minhas roupas já tão no trabalho. Separou mais algumas suas para eu levar na minha mochila e deixar lá junto com as outras?
- Separei. Também não temos tanta roupa assim.
- Então, tá quase na hora de voltar para o trabalho. Vai lá pegar, que eu vou passar com a mochila.
     Ela se levantou e saiu. Ele saiu um pouco depois, e quando voltou que encontrou com ela na sala principal, sentou ao lado dela. As Irmãs não vigiavam os dois, pois eram irmãos gêmeos e viviam juntos. (Fato que impediu seis vezes deles serem adotados, pois as famílias que vieram, não quiseram separá-los). Discretamente ela tirou algumas peças de roupas de debaixo da blusa e ele as colocou na mochila e saiu para trabalhar. Ele se levantou e foi embora, e quando ela olhou para o lado, viu que Terezinha a encarava.



_______________________________ Parte 02

     Era duas e meia. Um casal tinha chegado há poucos minutos, e Glória já os tinha visto duas vezes. Certamente iriam sair com um dos órfãos. Ela apostou consigo mesma que deveria ser o Thiaguinho ou o André, ambos meninos brancos de oito meses. Se surpreendeu quando eles saíram levando Natália, uma menina negra e gordinha de seis anos. Ficou feliz por ela ter conseguido ser a escolhida. Terezinha se aproximou e falou:
- Tá vendo, ela também é negra, e foi adotada! E olha que ela é gorduxa! Já você, ninguém te quis, mesmo sendo magrinha...
- E você? Já se perguntou por que nunca foi escolhida por ninguém? Talvez as pessoas olhem para você e enxergue a sua ruindade.
- Eu vi você passando alguma coisa para o seu irmão. Sabia que eu posso contar a Madre? Amanhã é o dia de lavar os banheiros...
- Faça o que quiser, sua fuxiqueira. Vai lá contar a Madre!
- Eu vou só esperar descobrir o que você tá aprontando, aí eu entrego para a Madre, sei que o castigo vai ser bem maior!
     Fernanda chegou e perguntou “o que tá acontecendo aqui” e Terezinha disse que ainda não sabia, mais assim que descobrisse, ia contara a Madre, para que as duas fossem castigadas. Fernanda mandou ela deixar as duas em paz, e ela saiu cantando “Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, música que estava fazendo sucesso no rádio e na televisão, que há duas semanas ela cantava para irritar os outros órfãos; os que eram negros. Fernanda perguntou:
- O que ela queria?
- Ah, Nanda; o de sempre, me irritar. Ela viu eu entregando uma roupa para o Bruno, mas ela não sabe de nada ainda.
- Então você vai mesmo fugir com ele?
- É meu irmão. Eu não posso deixar ele ir sozinho.
- E quando é que vocês vão? Já sabe?
- Amanhã à tarde.
- Amanhã?!? Nossa, eu pensei que ainda ia demorar.
- É por isso que eu tô tão nervosa...
- Nossa... E eu te achando triste, achei que era tristeza, não preocupação...
- Na verdade, estou triste sim. Muito triste...
- Você gosta daqui?
- Ah, vivo aqui desde que me lembro. Não, não gosto. Mas não sei o que vai ser da minha vida. E...
- E?
- Eu tô gostando de um menino... Pronto, falei.
- Sério? E eu conheço? É daqui do orfanato?
- Não! Conhece, mas não é daqui do orfanato...
- Vai me contar, não vai?
- Nanda... É aquele que toca violão na calçada, naquela casa aqui perto.
- Mas... Você sabe que ele tá namorando?
- É, eu vi ele beijando uma loira há quatro dias atrás...
- Ah, por isso que eu notei que você tava triste...
- Pois é.
- E você conversou com ele alguma vez? Quer dizer, ele ao menos sabe que você existe?
- Acho que não. Quer dizer, às vezes os nossos olhos se encontravam quando eu passava voltando da escola e ele tava na calçada, mas nunca nos falamos.
- E agora ele tá namorando... Puxa, que triste.
- Ah, eu já desconfiava que não teria chance, mas... Agora fico pensando que vou estar longe e nunca mais o ver... Ontem pensei que seria bom fugir, esquecê-lo; mas hoje acordei triste demais.
- Talvez você não deva fugir...
- Eu preciso. Não posso abandonar o meu irmão...
     A Irmã Júlia apareceu e chamou as duas para ajudarem na decoração natalina.



_______________________________ Parte 03

     O sol estava quase se pondo. Na sala principal do orfanato, alguns órfãos recortavam e colavam os enfeites natalinos. Terezinha estava com a Irmã Diana dobrando as roupas dos órfãos que elas tinham apanhado do varal. A Irmã Diana separou todas as roupas e as duas saíram levando as roupas para os guarda-roupas dos órfãos. Terezinha estranhou a pouca quantidade das roupas de Glória, principalmente porque não viu entre elas a blusa laranja nem a rosa, que ela cobiçava tanto. Fez questão de colocar as roupas dela dentro da cômoda que havia ao lado da cama dela, e se surpreendeu ao ver a cômoda dela quase sem roupas. Se perguntou o que estava acontecendo.
     Quando Terezinha estava indo jantar, encontrou Glória no corredor principal e falou:
- O que você está tramando? Eu vi que as suas roupas não estão na cômoda.
- Você foi espionar a minha cômoda?
- Não, só fui levar as roupas que estavam no varal, pois faço bem as minhas tarefas, ei, não mude de assunto, onde estão as suas roupas? Por que não estão na cômoda?
- Isso não é da sua conta.
- Eu vou contar a Madre!
- E eu digo que não sei de nada.
- Ela vai fazer você falar!
- Ah, não enche.
     Glória saiu em passos rápidos e Terezinha ficou sem saber o que fazer. Deveria ir logo contar a Madre, ou jantar? Decidiu jantar primeiro. Durante a janta, viu que Glória e Fernanda conversavam sussurrando e teve certeza de que algo estava acontecendo. Quando terminou de jantar, correu para a sala da Madre, e se surpreendeu com a Irmã Adelaide saindo de lá. Ela disse que a Madre estava repousando, Não estava se sentindo bem e que não devia ser incomodada. Perguntou se era importante, e Terezinha demorou a responder, então ela disse que Terezinha voltasse de manhã.
     Era costume os órfãos assistirem tevê depois do jantar. Podiam assistir a novela das sete e o telejornal que vinha depois, e então tinham que irem dormir. Terezinha preferiu ficar no quarto lendo a Bíblia.
     Quase nove horas Fernanda e Glória entraram no grande quarto com seis beliches que agora era só das três. Terezinha dormia no último beliche, e as duas nas camas de baixo dos dois primeiros; mesmo assim elas caminharam até o fim do quarto. Terezinha parou de ler quando notou que elas se aproximavam. Fernanda falou:
- E então, contou a Madre? Ganhou uma estrelinha?
- Não contei ainda, parece que a Madre está doente, eu não quis incomodá-la com notícias ruins, mas amanhã logo cedo eu conto.
- O que a Madre tem?!?
- Não sei, Adelaide não quis me dizer. Você sabe que vai se dar mal ajudando a Glória, né Fernanda?
- Não. Quem vai se dar mal é você se contar alguma coisa a Madre!
- Ora, vocês fazem coisas erradas, e querem que eu ignore?
- Terezinha, caso você tenha esquecido aquela conversa que tivemos há menos de um mês, eu vou refrescar a sua memória: Eu sei seu segredo!
- Você falou que não ia contar a ninguém!
- Se você nos deixasse em paz. Ainda não contei a ninguém, mas se amanhã você falar alguma coisa para a Madre, eu vou contar para todo mundo.
- Então você sabe o que a Glória tá tramando... Peraí, você faz parte também? Vocês vão se ferrar quando a Madre descobrir!
- Você nem pense em falar com a Madre...
- Pode deixar, eu não vou falar. Mas eu sei que ela vai descobrir, mentira tem perna curta! E eu vou adorar quando isso acontecer.
- Quer saber? Melhor a gente ir dormir. Não vale a pena perder tempo com você.
- Poderiam ler a Bíblia, rezar... Pensar nos pecados que cometem...
- Eu vejo você ler a Bíblia toda noite, e grande exemplo de pessoa você é.
     As duas foram para as suas camas e Terezinha voltou a ler.


  
_______________________________ Parte 04

     O dia estava meio nublado. Era nove e meia da manhã. A Irmã Adelaide pediu um voluntário para ir na farmácia mais próxima comprar um xarope para a Madre, e Glória se ofereceu. O coração estava acelerado, ela sabia que nesse horário era grande a chance do rapaz que tocava violão na casa de paredes cinza está na calçada. E estava. Lavando a bicicleta, só de calção e sandálias.  Calção laranja, havaianas brancas. Ela desacelerou os passos, mais o coração só acelerava mais. Estava bem perto quando ele olhou para ela e os olhos se encontraram, mas os deles não parou nos dela como ela esperava. Ele nem olhou para ela, continuou lavando sua bicicleta, e ela continuou andando. Ainda olhou para trás duas vezes, mas ele não olhava para ela.
     A farmácia era logo na primeira esquina e ela quase não demorou. Pensou que talvez na volta tivesse a chance de falar com ele. A última chance na verdade. E nem sabia o que dizer, só queria conversar, nem que fosse perguntar se ele achava que ia chover.
     Quando dobrou a esquina, teve uma surpresa desagradável. Lá estava a loira, toda de rosa. De longe parecia até que era uma das paquitas da Xuxa. Glória quase chorou de raiva e de decepção, pois ao passar por eles, foi como se fosse invisível.
     Chegou no orfanato e pouco depois contou a Fernanda o que aconteceu, e disse que mesmo assim, ainda sentia muito em fugir e ficar longe dele, de não o ver mais, de não ouvir mais ele tocando violão, as músicas daquela banda de rock que era o maior sucesso, a Legião Urbana... E que toda vez que ouvisse iria lembrar dele.
     Passou quase uma hora, Fernanda estava no jardim, pensativa. Sabia que ela iria fugir às duas e meia para se encontrar com o irmão e sumirem no mundo. Será que não deveria impedir essa loucura? Pensou mais um pouco. O único jeito de impedir era contando a Madre. Tinha que fazer alguma coisa, e decidiu ir conversar com a Madre. Poucos minutos depois estava na porta da sala da Madre. Quando atravessou a porta, ficou com medo. Glória era a única amiga, mas poderia passar a ignorá-la se fosse traída. Era melhor ter uma amiga distante do que alguém magoada por perto. E se fosse o contrário, perdoaria a amiga? Não. Então não podia contar. A Madre quebrou o silêncio:
- Diga menina, o que veio fazer aqui?
- Ah! Sim, claro... Eu soube que a senhora estava doente, e não lhe vi hoje, fiquei preocupada...
- Obrigada pela visita, estou bem melhor. Só preciso descansar.
- E eu lhe abusando... Desculpe então. Só vim ver se a senhora estava bem.
- Sim, estou. Está acontecendo algo?
- Não. Tudo bem. Eu vou voltar, estamos terminando de decorar o orfanato. Está ficando bem bonito.
- Que bom. Depois vou ver.
- Tá. É só isso. Com licença
     Fernanda resolveu ajudar na decoração para passar o tempo, e quem sabe diminuir a preocupação que sentia.
     Era quase hora do almoço. Glória foi para o quarto e ao entrar, viu que Terezinha estava olhando as gavetas da cômoda. Terezinha riu e disse:
- Engraçado, hoje tem menos roupa ainda. Só as mais velhas, para falar a verdade.
- E você pode ficar com elas para você, já que está aí namorando elas!
- Isso aqui só serve pra pano de chão. O que tá acontecendo então?
- Tá, vamos fazer assim; você me conta o seu segredo, e eu te conto o meu.
- Ora...
- Ah, me esquece! Vai cuidar da tua vida e me deixa em paz.
- Eu vou, mas escuta o que eu te digo, seja o que for que você tá planejando, você vai se dar mal. Depois não diga que eu não avisei.
     Terezinha saiu e Glória pensou: “Ainda bem que ao menos eu vou ficar livre dessa peste”.
     Depois que almoçaram, Fernanda e Glória ficaram no jardim. Alguns órfãos e duas irmãs faziam a decoração natalina do jardim. Gloria disse quase num sussurro:
- Vou sentir sua falta.
- E eu a sua. Nossa, vai ser insuportável ficar só com a Terezinha naquele quarto.
- Mas tem umas três meninas que logo vão completar doze anos...
- Tem certeza que vai mesmo fazer isso?
- Não dá mais pra voltar atrás. Eu quero, acho que é melhor, pra falar a verdade. Não esquece o que combinamos, depois que eu sair, tenta segurar a Terezinha por um tempo, se for preciso. Vou tentar sair sem ela me ver.
- Eu tive um sonho ruim... Acho que o medo do que pode acontecer... Por favor, se acontecer qualquer coisa, liga aqui para o orfanato.
- Não se preocupe... A gente vai se virar... E depois eu vou te escrever. Você é uma grande amiga.
     Se abraçaram, e seguraram as lágrimas, e logo se separaram para que os outros não percebessem que estava acontecendo alguma coisa.
     Era duas horas e dez minutos quando Glória se aproximou da Irmã Júlia e disse:
  - Irmã, queria falar com você...
- Pode falar, Glória.
- É que... O meu irmão me deu dinheiro pra eu comprar um shampoo... Daqueles que deixa o cabelo mais fácil de pentear... Será que a Madre deixa eu ir comprar aqui no mercadinho? Tô com medo de falar com ela...
- Hum... Acho que você pode ir. É no mercadinho aqui perto?
- É. O meu cabelo é tão ruim de pentear...
- Está bem, pode ir.
- Obrigada.
     A irmã Júlia voltou a se preocupar com a decoração natalina. Glória piscou para Fernanda, olhou para os lados e não viu Terezinha. Abriu o portão e saiu. Fernanda se juntou aos outros órfãos que decoravam o jardim.
     Passou um pouco mais de uma hora, e Terezinha apareceu no jardim que a essa altura já estava quase todo decorado. Não custou muito e ela viu que Glória não estava ali. Era a chance de descobrir o que ela estava aprontando, então foi procurá-la no quarto. Vasculhou o orfanato todo e não a encontrou. Voltou ao jardim e perguntou a irmã Penélope, e depois a Irmã Júlia, que lembrou que ela tinha ido ao mercadinho, há mais de uma hora. A Irmã Júlia mandou Francisco (um dos órfãos, de dezessete anos) ir ao mercadinho, e quando ele voltou e disse que o dono falou que Glória não esteve lá, começaram a ficar preocupados. Terezinha gritou “ela fugiu, e a Fernanda sabe de tudo!”; mas Fernanda negou saber de alguma coisa. Terezinha insistiu “ela fugiu, por isso que não tem roupas na cômoda dela!”.
     A Irmã Júlia foi até o quarto e viu que quase não havia roupas na cômoda. Quando a Madre ficou sabendo, ligou para a oficina onde o irmão de Glória trabalhava e descobriu que ele tinha saído mais cedo, depois de receber o salário do mês. Ela desligou, olhou para a Irmã Júlia e disse:
- Céus, eles fugiram! O que está acontecendo aqui? O que há de errado com essa geração? Damos um pouco de liberdade, confiança para eles terem um futuro e eles estragam? Meninas grávidas, crianças fugindo... Estamos perdendo o controle.
- Calma, Madre... A senhora acha que devemos avisar a polícia?
- Sim. São crianças!
     Terezinha interrompeu, dizendo que achava que Fernanda sabia de alguma coisa, pois viu as duas conversando muito nos últimos dias. A Madre mandou chamar Fernanda e conversou com ela, que disse que não fazia idéia dos planos de Glória. A Madre mandou todo mundo sair e ligou para a polícia. Depois a Madre comunicou a todos que o que podiam fazer agora era rezar e esperar.
     Passou o resto do sábado, e no dia seguinte, quase dez e meia, o telefone tocou. A Madre atendeu:
- Alô?
- Madre, aqui é o Pequeno!
- Pequeno! Como estão as coisas?
- Está tudo bem com a minha família... Madre, Os gêmeos chegaram aqui no circo ontem à noite... Eles não sabem que estou ligando, eu sei que a senhora deve estar preocupada, mas...
- Eles estão aí?!? Você tem que os mandar de volta!
- Madre, eu conversei com eles hoje cedo. Eles não querem voltar. Me disseram que se eu não arrumar trabalho para eles aqui no circo, vão procurar noutro canto, mas não voltam pro orfanato...
- Eles são crianças, não tem querer. Eu até já comuniquei a polícia. Aonde o circo está?
- Perto, na Paraíba. Madre, me deixe conversar com eles, eu vou resolver.
- Espere. Pequeno, a lei e as regras do orfanato permitem que eles trabalhem, desde que continuem estudando até a oitava, pelo menos. Só que a Glória ainda ia fazer a oitava no próximo ano. Se você se responsabilizar por eles, eu vou achar bom. Saber que eles estão com você me deixa aliviada. Tenho medo de trazê-los e eles fugirem de novo.
- Madre, eu vou falar com o Wilson. O circo está mesmo precisando de mais palhaços, e eles levam jeito. Me mostraram um texto ontem bem criativo, eu ri muito.
- É, desde aquela vez que eles lhe viram no circo que eles brincam de ser palhaços, até se apresentaram aqui no dia das crianças esse ano como os palhaços Vareta e Caniço. E eles levam jeito.
- Então, eu vou ver o que posso fazer.
- Pequeno, obrigada por me ligar, estava muito preocupada, são só crianças.
- Madre, fique sossegada, resolveremos isso. Preciso desligar. Eu dou notícias.
     Ele desligou e a Madre ligou para a polícia e avisou que já tinha encontrado os gêmeos. Depois comunicou as outras irmãs, e disse que a partir de agora, todas deveriam ter mais cuidado para que essa cena não se repita.

                                                               
                                                                           Fim

Sobre sexo e amor.


   Pessoas fazem amor, animais fazem sexo? Não!

   Héteros fazem amor, bi e homossexuais fazem sexo? Não!

   Casados fazem amor, solteiros fazem sexo? Não!

   Namorados fazem amor, ficantes fazem sexo? Não!

   Apaixonados fazem amor, qualquer um faz sexo? Não!

  A questão é só conjugar o verbo corretamente.
   
   Sexo se faz, é uma ação. Pode ser programado. Pode ser casual, pode ser comprado, vendido, encomendado. Sozinho, acompanhado. Virtual, imaginado. Sexo é algo completamente diferente de amor, é uma necessidade física.


   Amor se sente, não é uma ação. Não pode ser programado, nem ser casual. Não pode ser comprado, vendido, encomendado. Pode-se amar sozinho, amor não correspondido. Felicidade é amar acompanhado. Amor virtual, imaginado é ilusão, não existe. Amor é algo completamente diferente de sexo, é uma necessidade da alma. 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Os nossos 3 maiores erros.

 
    O terceiro maior erro humano é a forma que nós acreditamos ou não em Deus. Entre as muitas religiões que existe e os muitos ateus, todo mundo tá errado. Deus não é como está descrito em nenhuma religião. Porque as religiões foram criadas pelos homens, e cada uma criou a imagem de um Deus que lhe convém. 
   Os ateus estão enganados e certos ao mesmo tempo. Pessoas inteligentes enxergam que os Deuses de algumas religiões não fazem sentido. E há os que acreditam que não existe um Deus. A verdade é que Deus existe sim, é um ser vivo feito de energia e matéria como nós. É todo o universo. Não é seu pai, nem seu padrinho, seu rei ou seu chefe. Não é um cara lá em cima, não é seu brother. Nem seu inimigo. E por isso nos fez já presos ao livre arbítrio.

   O segundo maior erro humano é as teorias criadas sobre o universo. Algo tão simples, que nem os cientistas descobriram ainda. Bem, como já postei antes, o Universo é um ser vivo. (Leia "o que é o universo"). E é lógico que há vidas e muita água em outros cantos, mas provavelmente não chegaremos a coexistir, devido ao tamanho real do universo. poderia falar muito sobre isso, mas confesso que acho chato. 

   O terceiro maior  erro humano é o tempo. Como estamos enganados sobre o tempo. Não é uma forma de energia. Não é matéria, que possa ser manipulada.
   Inventamos uma forma de contar o tempo, mas isso não quer dizer que ele possa ser alterado. Não temos nem nunca teremos acesso ao tempo. 
   E o grande absurdo que acho é que alguém acredite em viagens no tempo. Inclusive um cientista passou a maior parte da vida dele para construir a máquina do tempo. E falhou. Se ele terminou de construí- la e ela está pronta para receber notícias do futuro, receberia no primeiro minuto de funcionamento. Ondas de rádio se dispersam em poucos anos, imagine como seria possível viajar por dezenas ou centenas de anos?
   E as pessoas viajarem no tempo? isso é que é mais absurdo. Não existe outras dimensões. Ficção científica. 

   Vou dar uma prova:
   Imagine uma reta de cinquenta metros. Dois homens estão no começo. Eles sabem que vão gastar um minuto para andar os cinquenta metros.
   Então eles parados estão no presente. Um minuto no futuro eles estarão no fim da reta.
   Mas, um vai andando; o outro correndo... E gasta só dez segundos para chegar. 
   Ele não viajou para o futuro. O tempo corre igual para os dois. (Desculpe senhor que criou a teoria da relatividade). E se ele correr para trás, não vai voltar para o passado.
   Podemos manipular o quanto quisermos a forma de CONTAR o tempo, mas é só isso. Nunca vamos alterar o tempo.
   Podemos criar algo que nos leve mais rápidos para algum lugar. Podemos criar algo que nos faça envelhecer mais rápido ou lentamente, mas nada disso será viajar no tempo.
   Só para lembra: esse segundo é o mesmo aqui, em Plutão ou na galáxia mais distante.
  
    

terça-feira, 25 de novembro de 2014

História 004 - Aranna

  Nota:
  A minha mente não para de me dar ideias para novas histórias. Hoje de madrugada, um pouco antes de dormir tive a inspiração de escrever algumas histórias infantis, pois tenho muitos sobrinhos. Essa é a primeira, mas tô cheio de ideias, acho que virão outras em breve. 
               
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                          Aranna - Os sapatos cor de rosa   
                                                                                    Neto Sanville


   Era uma vez um mundo chamado Insetolândia onde os habitantes eram insetos inteligentes. Eles viviam como gente, conversavam entre sim, usavam roupas, tinham meios de transportes, casas e edifícios, comidas, músicas e esportes. Eles até dançavam e faziam bolhas de sabão. E aviõezinhos de papel.

                                                                    ***

   Aranna a aranhinha filha da aranha Ariana ia completar dezesseis anos aracnídeos, e convidou todos os amigos e parentes de oito patas para a sua festa. No convite, ela deixou bem claro que ninguém – NINGUÉM MESMO – deveria vir vestido de nada com a cor rosa, pois essa era a cor que ela escolhera.

   Faltava só sete nascer do sol para a festa, mas a mãe dela ainda não tinha encontrado os sapatos que a filha tanto queria, que fossem da mesma cor do lindo vestido que a avó Aranilda já tinha terminado de costurar uma semana atrás.

   Na loja especializada em roupas e artigos para aranhas e insetos de mais de quatro patas, havia muitos pares de sapatos cor de rosa, mais nenhum era igual ao rosa do vestido, que era um rosa tão rosa quanto o pedaço de pétala rosa de uma rosa rosa que ela tinha tirado do jardim e levado para a loja de tecido para comprar um tecido rosa que fosse tão rosa quanto o rosa da rosa rosa. Não tinha jeito, não havia os sapatos que ela queria, e Aranna chorou muito com medo de que não encontrasse sapatos para usar na sua festa.

   Toda a família da aranhinha se reuniu à noite para encontrar uma solução. Aron, o aranha pai da aranhinha sugeriu então que a solução era fazer outro vestido, e dessa vez comprariam primeiro os sapatos e levaria um deles para a loja de tecidos para que a cor do tecido fosse a mais parecida com a cor dos sapatos. A avó da aranhinha disse assustada que talvez não desse tempo, que passou seis dias para fazer o outro vestido, e agora só faltavam seis dias para a festa, e ainda teriam que comprar os sapatos, para poder comprar o tecido, e a linha da mesma cor do tecido, e blá, blá, blá... Arânio, o irmão mais velho de Aranna disse que ia dar tempo sim, que no outro dia logo cedo, assim que a loja de sapatos abrisse, eles estariam lá para comprar os sapatos. Iria ele e Aranna de carona nas costas do Cigarra Cícero, que era um grande amigo e era muito veloz; e de lá iriam para a loja de tecidos, e logo estariam de volta. E acrescentou que essa festa teria que acontecer, pois queria aproveitar para pedir a prima aranha Arady em namoro.

   No outro dia de manhã foi quase como Arânio falou que seria, só que na hora de provar os quatro pares de sapatos rosa escolhidos, Aranna descobriu que suas duas últimas patas traseiras ainda não estavam do mesmo tamanho das outras patas, e isso porque ela ainda estava em fase de crescimento. Bárbara, a borboleta que era a vendedora que estava atendendo sorriu e disse que isso era muito comum. Os sapatos para aranha eram vendidos em quatro pares. Aranna pensou um pouco, e achou melhor comprar os quatro pares mesmo assim. Daria um jeito de usar os sapatos folgados nas últimas patas, só tinha que fazer algo para que eles não saíssem das patas e ela pagasse um mico, mas pensaria nisso depois. Saíram da loja de sapatos e foram logo para a loja de tecidos, e por sorte, ela conseguiu um tecido rosa que era o mesmo rosa dos sapatos, embora não fosse o mesmo rosa das rosas rosas que nasciam no jardim de sua casa. E na mesma loja compraram a linha rosa bem parecida com o rosa do tecido e foram para casa.

   A avó de Aranna cortou o tecido, e foi até mais rápido, pois já tinha o molde que usou para cortar o outro. No mesmo dia começou a costurar as primeiras partes. O demorado era costurar as miçangas e mini cristais, mas a mãe de Aranna que também sabia costurar, disse que ajudaria nas horas vagas; quando não estivesse na escola dando aulas, ou corrigindo as tarefas dos pequenos alunos aracnídeos.

     O vestido só ficou pronto no dia da festa, mais era o vestido mais lindo que Aranna já vira. Bem, era igual ao outro, mas era o mesmo rosa dos sapatos, e Aranna estava muito feliz, sabia que iria arrasar em sua festa. Quanto ao problema dos dois sapatos que ficariam folgados, seu pai que era muito inteligente colou algumas camadas de papel por dentro, sempre mandando a filha experimentar até que ela disse que estava perfeito.

   A festa foi um sucesso, e na hora dos parabéns Aranna chorou de alegria, mas o que ninguém sabia, o que ela guardava em segredo; é que tinha se produzido toda só para chamar a atenção de Aranildes (seu colega de classe),o aracnídeo filho do prefeito.

    E quase no final da festa, depois de dançarem e conversarem um bocado ele a pediu em namoro. E namoraram , noivaram, e casaram. Foram felizes para sempre.

                                                                        Fim



segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Contratempos.


     Finalmente levei meu computador para conserto semana passada, e o carinha me disse que precisarei de uma nova placa mãe, além de mais memória - e como continuo sem trabalho (Ainda fazendo "bicos"), não terei condições de consertá-lo agora. (Talvez não mais esse ano, tô conseguindo pagar minhas contas no sufoco).  
     Apesar do meu irmão trabalhar e ir para a faculdade, não posso usar esse dele toda hora, pois sempre passo tempo lá na minha casa. No mínimo, tenho que ir lá aguar as plantas - meus pés de morangos, acerola, pitanga e mamão. (aliás, era lá que eu mais escrevia, esquecia do mundo).

     O curioso é que tô cheio de estórias e ideias, mas não sinto muita inspiração aqui no quarto do meu irmão, não tenho paciência de escrever por mais de uma hora sem parar como fazia na maioria das vezes lá em casa. Aqui fico jogando, acessando vídeos no Youtube, e outras coisas desse tipo.

     Tenho que voltar a escrever, tenho muitas estórias começadas. E tenho também que continuar escrevendo as estórias do orfanato raio de sol, ideia que tive de escrever estórias curtas exclusivamente para este blog, mais depois de escrever as três primeiras (já publicadas aqui), estou pensando em transformá-las em um livro. (Acho que serão doze ou quinze estórias, tô cheio de idéias). 

     Ainda não divulguei esse blog para ninguém, mas hoje de manhã fiz um novo perfil no Facebook (tinha excluído o outro há três meses - depois do meu inferno astral) e comecei a adicionar pessoas, quando tiver mais de trezentos amigos, divulgarei.

     Por hoje é só.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Sobre o The voice Brasil


     Quando o programa surgiu aqui no Brasil, confesso que fiquei tentado a me escrever. Imagina um programa onde o que importa é a voz, não o visual da pessoa.

     (Nunca gostei do meu corpo magricelo e levemente barrigudo.
 *Mas hoje em dia não tô mais assim. Depois desses três meses de exercícios quatro vezes por semana, não tenho mais vergonha dos meus braços finos e já tem algumas bermudas folgadas, caindo se não uso cinto).

     Voltando ao assunto: Bem, não me escrevi naquela época, (não sou desses sem noção que se acham prontos, quando não passam de cantores de chuveiro). E depois de assistir acho que nunca participarei. Lembro bem que alguns jurados não apertavam o botão, e quando era no fim; depois de ver o(a) candidato(a) diziam “Eu devia ter apertado o botão, me arrependi”... Porra!, o programa é “the voice”, não “the face” ou “the body”.

      O pior é que os tais TÉCNICOS (que eu curto o trabalho de quase todos) continuaram cometendo seus erros na hora de julgar nas batalhas.

     E passou dois anos, já está na terceira temporada, e ainda assim, eles parecem não ter aprendido a julgar a voz. Na quinta passada três injustiças foram cometidas. Senti vontade de estar lá para gritar “Caralho, o nome do programa é the voice, não the face!”.

     Acho que se eles estão ali como técnicos para escolher a melhor voz, deveriam respeitar isso. E daí que fulano ou sicrano tem o melhor timbre ou se veste melhor? Se ele(a) não esteve bem na apresentação, que seja eliminado(a). E o outro, que se esforçou e conseguiu fazer uma boa apresentação? Como fica? Não fica, volta para casa...
     E a vida continua, rumo a escolha da mais bela voz do Brasil. (Mesmo?).

     

Por que a gente é assim? - 02


     Dias atrás vi na tevê a estória de dois irmãos cegos que cantam sertanejo e queriam conhecer um desses novos sertanejos famosos. O que me chocou na matéria foi a hipocrisia do apresentador.

     Ele disse que os dois estavam no programa pelo talento, por cantarem bem. (Detalhe: eles não são famosos; acho que nem vivem de música). E qualquer pessoa com um pouquinho de inteligência sabe que foi a DEFICIÊNCIA dos dois que proporcionou “esse bônus”. (Sem falar nas vezes que a deficiência dos dois foi comentada pelo apresentador hipócrita). Há muitos cantores não famosos tão talentosos ou mais, e não vão aparecer no programa dele por NÃO serem deficientes!

     Tenho me perguntado tanto “por que a gente é assim?”.

     As pessoas tem que aprender a tratar os outros e se tratar com naturalidade, independente de uma deficiência qualquer. Somos humanos. Todos! Nenhuma deficiência pode mudar isso. Não é preciso ficar puxando o saco, presenteando; fingindo que não sentem pena da deficiência ou pior: usando-a por um pouco de ibope.

                                               ***

     Ante ontem assisti a estória de um deficiente visual que participou de uma prova que poucos conseguem: Correr uma maratona no deserto.

     Na entrevista ele deixou bem claro que fez isso para provar que era capaz. Sinto alegria por ele conseguir, mas ao mesmo tempo, acho isso desnecessário. NÃO TEM QUE PROVAR NADA PARA NINGUÉM. Nem mesmo para si mesmo. Participar de uma MEGA PROVA FÍSICA não desfaz a deficiência. (Teve que correr amarrado a uma guia. Ocupou uma pessoa apenas para fazer a função dos OLHOS DELE).

     Sei que sou um cara careta, que tenho conceitos bem diferentes da maioria, mas vamos ser justos: Deficiência não diminui ninguém. São as ações.

     Mesmo que essa mulher tenha feito isso por amor, por amizade, ou pelo dinheiro, ela poderia estar fazendo outra coisa. Quem sabe se não perdeu algum acontecimento importante de algum familiar? E o cara continua cego depois de tudo.

                                                  ***


     Pior é quando algum deficiente comete a hipocrisia de dizer “Hoje eu sou mais feliz do que antes do acidente”, (Como já vi um famoso na tevê dizer) quando o máximo que deveria dizer era “apesar de tudo, hoje eu consigo viver bem, e me sinto feliz”.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Evolução X criação.

     Faz um tempo, meu irmão e meu pai concordavam com a criação do homem por Deus, e não que evoluímos dos macacos. (E discordavam da  existência de dinossauros). 

     Me meti na conversa e falei pro meu irmão mais velho: 

- É a mesma coisa, a ciência que explica melhor, só isso.
- Tu acha que a gente evoluiu de um macaco?
- Imagine uma cena: Deus pega um pouco de barro, coloca na mão, modela o homem e lhe sopra a vida. Você não acha que um pouco antes do barro parecer um homem, pareceria um macaco? E isso revelaria o TAMANHO de Deus, já que caberíamos na palma da mão dele. É só uma estória com palavras aceitáveis para aquela época. É uma descrição científica da ação da natureza. O barro significa a matéria, e o sopro no final, que ganhamos consciência, inteligência. E veja que fomos feitos depois de todos os outros animais, num tempo que não existia a escrita. A Bíblia foi escrita muito tempo depois. Alguns textos são científicos, mas escritos sempre de uma maneira aceitável para aquela época. Muitas palavras que estão na Bíblia hoje, nem existiam quando ela foi escrita. Quanto a questão dos dinossauros, os seis dias de criação do universo não foram seis dias terrestres. Na Bíblia diz que o tempo de Deus não é o mesmo tempo do homem. E se Deus tem o poder de criar as coisas só com o pensamento, criaria tudo em menos de um segundo. Talvez os homens levassem seis dias para descrever tudo o que foi criado. E Deus ficou cansado e descansou no sétimo dia? (Isso é uma das coisas que não fazem sentido, e não é a única na Bíblia). Mas para aquela época, que poucos homens tinham tempo para estudar, pesquisar; a Bíblia foi muito bem escrita.
     Eles ficaram meio sem saber o que falar, e acabamos mudando de assunto. (E foi melhor assim).