(Da série histórias infantis)
Era uma vez um mundo chamado Insetolândia onde os habitantes eram insetos inteligentes.
Eles viviam como gente, conversavam entre sim, usavam roupas, tinham meios de transportes, casas e edifícios, comidas, músicas e esportes.
Eles até dançavam e faziam bolhas de sabão... E aviõezinhos de papel.
Formilka - O lápis mágico
Neto Sanville
Formilka era uma formiguinha de quase sete anos
muito criativa e alegre. Ela morava com o seu irmão de dez anos, a mãe e o pai
numa casinha toda feita de barro avermelhado, que ficava dentro de Formigueiro City,
uma das cidades que formavam o mundo chamado Insetolândia.
Ela tinha começado a estudar há pouco
tempo, e estava encantada com os desenhos que podia fazer com o lápis nas
folhas de seu caderno. A professora ainda estava ensinando as primeiras letras,
mas ela gostava mesmo era das aulas de desenho.
Mas ela era muito pobre, não tinha lápis
coloridos nem tintas, e o seu lápis escrevia tudo da mesma cor, um cinza quase
preto.
Foi na terceira semana de aula que ela
descobriu que seu lápis só riscava bem em papeis ou em materiais parecidos. Formilka
ficou enfurecida quando tentou fazer um desenho na parede de barro vermelho no
seu quarto, mas o lápis só escavava a parede. Sua mãe entrou no quarto e viu
que ela estava de cara feia, e depois que Formilka contou o acontecido, sua mãe
disse:
- Mas filha,
os lápis são feitos para escrever no papel, especialmente nos cadernos. E é
muito caro, você não pode ficar gastando ele em qualquer besteira.
- Não, mãe,
eu não ia fazer besteira, eu ia desenhar um desenho bem bonito na parede.
- Filha,
você não pode riscar as paredes.
- Eu sei,
esse lápis não presta!
- É que ele
foi feito para riscar no papel. Por que você não faz um desenho num papel?
Depois damos um jeito de pendurar ele na parede.
- Mãe, eu já
sei o que vou pedir no meu aniversário antes de assoprar as velas! Um lápis que
risque qualquer coisa!
- Ora,
Formilka, isso não existe! E agora que você contou o pedido, não vai
funcionar...
- Puxa, é
mesmo! A não ser que eu peça para o Papai Noel... Mas ainda falta muito para o Natal...
- Hum, por
que você não vai brincar com as suas bonecas? Deixe esse lápis para usar só na
escola. Foi para isso que ele foi feito.
- Então eu
posso ir para a casa da minha prima?
- Pode sim,
eu fico na porta olhando.
Formilka saiu de casa e sua mãe ficou
olhando. A casa da Mygaele (a prima dela, filha da irmã da mãe) era a vinte
passos da sua casa, e logo ela chegou lá.
Brincaram de boneca o resto da tarde, e
depois que voltou para sua casa, Formilka perguntou de novo a sua mãe todos os
doces que iria ter na sua festa de aniversário, e sua mãe mais uma vez disse:
- Vai ter
tudo o que você gosta: Brigadeiros, pudins, cajuzinhos, beijinhos de coco....
- E pedaços
de maçãs e uvas carameladas?
- E torrões
de açúcar, e gigantescos pedaços de rapadura. E todos os seus amiguinhos que
você gosta virão!
Formilka ficou feliz e ansiosa, e quase
não dormiu naquela noite, contando repetidas vezes quantos dias faltavam ainda
para o seu aniversário.
De manhã o dia parecia igual aos outros,
mais foi quando ela estava no recreio, que ouviu uma voz sussurrada chamando
seu nome. Procurou e não viu ninguém. Olhou para cima e suspeitou que a voz
vinha da flor branca. Ela perguntou:
- Você é uma
borboleta ou uma joaninha? Eu não estou lhe vendo, apareça!
E foi nessa hora que apareceu a dona da
voz, voou da flor até o chão onde Formilka estava, e foi quando ela viu que não
se parecia com nenhum dos insetos que ela conhecia, então Formilka perguntou:
- Afinal, o
que é você? Não se parece com ninguém que eu conheça!
- Eu sou a
fada dos sonhos! Posso realizar qualquer sonho seu!
- Qualquer
um mesmo?
- Sim, pode
pedir.
- Eu
queria... ...Não, isso não! Eu quero um lápis que risque em todas as coisas que
existe!
- Nossa, mas
isso é muito complicado!
- Eu sabia,
você não consegue!
- Eu consigo
sim, mas é que pode ser muito perigoso. Está bem. Eu vou lhe dar um lápis que
risca em qualquer coisa, e antes de riscar, você pensa numa cor, e riscará da
cor que você pensar.
E aconteceu uma explosão silenciosa de
luzes coloridas, e lá estava o lápis mágico na mão da fada. Formilka gritou
feliz “Oba, agora posso desenhar onde eu quiser!” e esticou as mãos para pegar
o lápis, mas a Fada dos sonhos disse:
- Espere um
pouco. É importante que saiba que não deve sair riscando tudo por aí. Tudo bem
fazer um desenho numa pedra, ou numa árvore, mas não desenhe nas paredes, nem
nas roupas do varal, em nada que não seja seu. Peça ao dono para fazer um
desenho, se ele ou ela deixar, faça. Coisas muito ruins podem acontecer se você
não usar o lápis direito. Lembre-se que ele risca em tudo que existe, e ficará
lá para sempre, não pode ser apagado. Você entendeu?
- Sim!
- Está bem,
tome seu lápis mágico.
Assim que entregou o lápis, a Fada dos
sonhos saiu voando e Formilka quis logo testar o lápis mágico, que era
transparente, como se fosse de vidro. Ela se aproximou de uma pedra e disse
sorrindo “Vamos ver se funciona” e tentou desenhar uma flor. Não aconteceu
nada, nenhum desenho aparecia na pedra; então ela ficou furiosa e disse em voz alta:
“Aquela fada me enganou, não funciona!” e foi quando sua prima apareceu e
perguntou o que não funcionava. Formilka contou a estória da fada e mostrou o
lápis transparente. Sua prima Mygaele disse:
- E você
pensou numa cor antes de fazer o desenho?
- Não!
- Então, por
isso que não riscou. Você não disse que a fada falou para pensar numa cor antes
de desenhar?
- Foi.
- Então,
tenta de novo!
- Está bem,
eu quero que o lápis risque vermelho!
Mal terminou de falar vermelho, Formilka
viu que o lápis mágico agora estava vermelho. Ela ficou feliz, e pensou que
poderia escolher qualquer cor que existe, e quando pensou nas cores, o lápis
ficou de todas as cores que ela tinha pensado.
Formilka pensou no preto, e o lápis ficou
preto, então ela quis ver se riscava em qualquer coisa mesmo, e desenhou uma
flor de cinco pétalas numa pedra, e o sol numa das folhas da grama. E pensou na
cor amarela e coloriu o sol desenhado na folha da grama. Pensou na cor vermelha,
e coloriu as pétalas da flor que havia desenhado na pedra.
Estava se divertindo tanto que nem viu o
tempo passar. Logo estava de volta na sala de aula, depois já estava em casa
jantando, e mostrou e contou a estória do lápis mágico a todos, e sua mãe lhe
disse que ela tinha que ter cuidado, que perguntasse sempre se podia desenhar
no que quer que fosse antes de sair desenhando em tudo.
Passou três dias e o lápis fazia muito
sucesso. Dois amiguinhos da escola seguraram outro e mandaram Formilka desenhar
bigodes azuis nele, e Formilka achou aquilo tão engraçado que esqueceu os
avisos da Fada dos sonhos e de sua mãe. Quase todos os alunos riram do pequeno
formiguinha com bigodes azuis, e quando a professora tentou lavar, os bigodes
não largavam mais. Formilka lembrou que a Fada tinha dito que a tinta do lápis
mágico duraria para sempre.
A professora chamou os pais de Formilka,
que ficaram muito decepcionados com ela. A mãe disse: “Onde já se viu, pintar
bigodes azuis no coleguinha? Isso não se faz!”. O pai disse que ia na casa do
formiguinha pedir desculpas aos pais dele. A professora proibiu Formilka de
levar o lápis mágico para a escola, e disse que ela ficasse em casa por dois
dias, pensando no que fez.
Formilka não queria nem brincar com a
prima, passou os dois dias pensando em cores diferentes e fazendo vários
desenhos, e no segundo dia já tinha usado todas as folhas do seu caderno. E se
sentou no sofá com cara de raiva. A mãe dela perguntou o que estava
acontecendo, e quando ela contou, a mãe dela falou:
- Por que
você fez isso? Agora tenho que sair para comprar um novo caderno para você
estudar amanhã! Vou perder meu tempo, e seu pai não vai gostar de gastar
dinheiro com um caderno novo!
- Mas foi a
senhora que me proibiu de riscar outras coisas, disse que eu desenhasse só no
caderno.
- Sim, mas
não pensei que você fosse desenhar em todas as folhas do caderno! Tá, você pode
desenhar em outras coisas; nas pedras, nas folhas, nos troncos de árvores, no
chão; mas me prometa que nunca mais vai desenhar em ninguém!
-Sim, eu
prometo.
A mãe dela saiu para comprar um novo
caderno e ela saiu para desenhar nas coisas.
Passara cinco dias, tudo estava bem,
faltava só quatro dias para sua festa de aniversário, e ela estava muito feliz.
Tinha chegado da escola, sua mãe estava na cozinha e ela sentou-se no sofá e
ficou pensando na sua festa. Estava distraída, e com o lápis mágico, que
carregava sempre consigo, menos quando ia para a escola. Num momento de
distração, começou a fazer desenhos no sofá. E gostou. Fez muitos desenhos, e
se surpreendeu com a voz do seu pai que acabara de chegar do trabalho:
- Formilka,
o que você está fazendo? Formine, vem ver o que a sua filha fez no sofá que eu
ainda devo oito prestações!
E foi uma discussão dos pais. Formilka
ainda disse que foi sem querer, mas como a tinta não largava de jeito nenhum, o
pai dela disse que tinha que trocar o revestimento do sofá, e que usaria o
dinheiro de fazer a festa de aniversário dela, portanto, não teria mais festa!
A mãe dela ainda tentou convencê-lo a não fazer isso, mas não teve jeito, ele
disse que esse ano, por ter riscado o sofá todo, Formilka não teria sua festa de
aniversário!
Formilka correu para o seu quarto e se
jogou em cima de sua cama, e chorou muito. Chorou como nunca tinha chorado em
sua vida, e só parou porque ouviu sua mãe mandando ela acordar. Assim, ela
abriu os olhos lacrimosos ainda sem entender o que estava acontecendo, e ouviu
sua mãe dizer:
- Calma,
filhinha, você estava tendo um sonho ruim, já acabou!
- Foi só um
sonho? Não tem lápis mágico?
- Lápis
mágico? Não querida, você estava sonhando.
Formilka enxugou os olhos e ficou feliz,
tinha sido só um sonho ruim, ainda teria sua festa de aniversário. E dias
depois, ela se divertiu muito na festa com os amiguinhos. Ganhou muitos
presentes, roupas e bonecas, e quando abriu o presente que os pais dela tinham
comprado, foi que ficou mais feliz ainda: Era um caderno de desenho e uma caixa
de lápis com lápis de trinta e seis cores. E ela disse:
- Eu prometo
que só vou desenhar no caderno, nunca vou riscar os móveis, nem as roupas, e
nem os outros!
E a mãe dela:
- Querida,
esses lápis só riscam papéis.
- Ah! Que
bom. Melhor assim.
E todo mundo riu muito, e cantaram os
parabéns.
Fim
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