sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

história 009 - Bob e os deliciosos chocolatitos.

 Bob
E os deliciosos chocolatitos. 
                                                                             Neto Sanville 

(Da série histórias infantis)


Era uma vez um mundo chamado Insetolândia onde os habitantes eram insetos inteligentes. Eles viviam como gente, conversavam entre si, usavam roupas, tinham meios de transportes, casas e edifícios, comidas, músicas e esportes. Eles até dançavam e faziam bolhas de sabão. E aviõezinhos de papel.

*** 

Bob era o único filho da borboleta Babi. Ele tinha seis anos e gostava muito de brincar de bolinha de gude. A sua mãe e o seu pai trabalhavam o dia inteiro, e por isso Bob passava o dia com a sua tia e madrinha Bruna, a borboleta irmã de seu pai e da borboleta Bárbara.

Bruna estava para se casar, e iria morar longe quando isso acontecesse. E passou três meses e ela se casou. Três dias depois do casamento ela foi se despedir do sobrinho e afilhado, que agora ficaria com a avó, a borboleta Bernadete enquanto os seus pais estivessem trabalhando.

Bruna abraçou Bob e lhe deu um presente, que ele logo abriu e viu que era uma caixa com mais de duas dúzias de chocolatitos, que era o doce que ele mais gostava. A sua tia disse:
- Meu querido, eu vou passar alguns dias sem lhe ver, por isso, cada dia você come um desses doces e se lembre que eu o amo muito.
- Sim madrinha!
- Não vá comer tudo de uma vez, pode lhe dá dor de barriga! Não quero que você fique doente. Me promete que vai fazer isso? Eu posso confiar em você?
- Sim, pode sim.

Pouco depois ela foi embora. Era um sábado à tarde e ele estava com os pais em casa. Comeu um chocolatito e guardou os outros. E passou uns vinte minutos e Bernardo, o seu amiguinho chegou e foram brincar de bolinha de gude. Passou mais um tempo e eles foram desenhar no quarto de Bob. Bernardo viu a caixa de chocolatitos e disse:
- Nossa, como tem muito chocolatitos. Eu adoro chocolatitos! Me dá um?
- Não. A minha madrinha me deu para eu comer um todo dia.
- Ah, então tá. A minha madrinha só me dá roupas. Ela diz que doces estraga os dentes!
- Seu bobo, é só escovar!
- Eu escovo, mas ela só me dá roupas mesmo assim. Também, se eu ganhasse uma caixa de chocolatitos, eu comia tudo num dia só.
- Mas dá dor de barriga!
- Quem disse? No meu aniversário do ano passado eu comi muitos doces e a minha mãe me disse que eu ia ficar com dor de barriga, mas eu nem fiquei. Só que eu não quis almoçar no outro dia, aí ela me disse que nunca mais ia deixar eu comer muito doces.
- A minha avó também diz que se comer doce não tem fome para almoçar!
- Então, deve ser por isso que elas inventaram essa história que comer muitos doces dá dor de barriga!
- É, deve ser.

E ficaram conversando e desenhando. À noite, quando já estava em sua cama para dormir, Bob sentiu vontade de comer um chocolatito. Se levantou, foi até onde estava a caixa, pegou um, desembrulhou e comeu. Como era gostoso. Queria mais. Lembrou que tinha dito a tia e madrinha que comeria só um por dia para não ficar com dor de barriga, mas se fosse mentira mesmo, se não ficasse com dor de barriga? Ela estava longe e não ia saber, então comeu mais um. E mais outro. E continuou comendo até que de repente os chocolatitos se acabaram. Mais de duas dúzias de papéis coloridos e brilhosos estavam aos seus pés. Ele ficou preocupado e pensou que a mãe dele não podia ver aquilo, pois contaria para a madrinha dele, então recolheu todos os papéis que antes embrulhavam os chocolatitos e colocou na caixa que estava vazia. E se deitou para dormir.

Tinha se passado algumas horas e ele teve um sonho ruim, uma bruxa de orelhas pontudas e com uma enorme verruga no nariz voava em sua vassoura de palha o perseguindo para transformá-lo numa pedra, como castigo por ele ter quebrado a promessa que tinha feito a sua madrinha.
Bob acordou com muita dor de barriga, e com muito frio, e começou a chorar. Logo a sua mãe e seu pai chegaram ao seu quarto, e sua mãe disse:
- Borbonaldo, o nosso filho está com muita febre!
- Mas, o que será que ele tem? Estava vendendo saúde antes de se deitar! Será que pegou uma friagem?
- Não sei, temos que levá-lo ao médico!
- À essa hora da noite? Não temos um antitérmico aí?
- Borbonaldo, ele está chorando de dor, pode ser algo grave, uma apendicite, uma infecção! Filho, o que você comeu quando brincava com o seu amiguinho?
- Eu não comi nada.
- Você lavou as mãos antes de jantar?
- Lavei, eu juro!
- Ai meu Deus do céu! Filho, tem certeza que não comeu nada de diferente à tarde ou a noite?

Bob ficou com medo dela brigar com ele, por isso não contou que tinha comido todos os chocolatitos que estavam na caixa. E a dor na barriga só aumentava, e de repente ele começou a vomitar. A mãe ficou mais desesperada ainda e o pai dele chamou logo um táxi. E foram para o hospital. Bob chorava dizendo que não queria tomar injeção, e que não queria morrer.
Depois de ser atendido pelo médico, de tomar um remédio que era muito amargo; ele ficou em repouso, com os pais ao seu lado. E passou mais de uma hora e o céu estava ficando claro. O médico veio falar com os pais dele:
- Eu já posso afirmar com certeza o que fez o seu filho adoecer. Ele não devia ter comido tanto chocolate!

Depois que o médico saiu do quarto, a mãe dele falou:
- Meu filho, porque você comeu todos os chocolatitos de uma vez? Você tinha prometido a sua madrinha que não ia fazer isso. Ela confiou em você. Nós confiamos em você. Por que fez isso?
- Mãe, é que eles são tão gostosos!
- Eu sei que são, filho, mas eu não tinha dito que comer muito doce de uma vez só dá dor de barriga? Quando eu ou o seu pai, ou a sua madrinha, ou a sua avó dizemos alguma coisa, é para o seu bem!
- Eu sei, me desculpa!
- E por que você não me contou que tinha comido os chocolatitos todos quando eu perguntei se você tinha comido alguma coisa diferente?
- Eu fiquei com medo da senhora contar a minha madrinha! Eu vou ficar de castigo?
- Não, meu filho, acho que toda dor de barriga já foi um castigo. Acho que da próxima vez você vai se lembrar e não vai mais comer muito doce. Me promete isso?
- Tá, eu prometo.

No outro dia o Bernardo foi visitá-lo e ele disse:
- Você estava enganado, Bernardo... comer muito doce dá dor de barriga sim!
- Se você tivesse dividido comigo, não teria comido muito.
- Ainda assim, você está errado.

Passou um mês e meio e a madrinha veio visitá-lo e trouxe um presente. Ele abriu todo feliz, mas ficou sério e disse:
- Uma camisa?
- É, meu querido, eu soube que você ficou muito doente comendo os doces que eu lhe dei, por isso, a partir de hoje, só lhe darei roupas. Mas olha só, tem o desenho daquele super herói que você gosta! Agora me dê um abraço que eu tenho que voltar para a minha casa.


Ela foi embora e Bob ficou pensando que nunca mais ia ganhar doces da madrinha, só porque não cumpriu a promessa e comeu os chocolatitos todos de uma só vez.

                                                   Fim.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

8 - meu terceiro romance finalizado.


8 é um romance um pouco diferente dos outros que escrevi. Nele os personagens já estão juntos há um bom tempo e tem um filho de sete anos.
Aron - o personagem principal tinha cinco personalidades ativas. Com ajuda do psiquiatra Augusto, ele criou uma sexta, mais forte do que as outras para se manter no controle e ter uma vida normal.
Érica contou a história num livro e a vida deles começou a ficar um pouco melhor quando o livro virou um best-seller.
A estória começa em março de 84, logo depois do tratamento, ele sobre o controle da sexta personalidade. Eles moram em Brasília. É quando Érica começa a desconfiar que tem alguma coisa errada.
Depois a história volta nove meses, para descrever a descoberta das personalidades e o que aconteceu durante o tratamento psiquiátrico, mas retorna ao tempo presente da história.

***

Acho que eu tinha escrito um terço da história em março do ano passado, mas no fim de outubro decidi finalizá-lo e passei a escrever quase todo dia quando tinha algum tempo livre. Terminei no começo de dezembro. Li umas três vezes procurando furos na história e corrigindo os erros mais grotescos.  
Foi quando pensei em publicá-lo na AGBook, então o formatei. Só que tenho um PDF publicado lá porque achei os livros impressos um pouco caros para despertar o interesse de compradores, então repensei e o esqueci nos meus arquivos.
  
No começo de janeiro conheci o site Catarse, onde pessoas lançam projetos lá, e foi quando tive a idéia de tentar publicar meu primeiro livro de forma independente. Como ainda estou esperando uma resposta da editora para o meu romance "Doze dias sem ver o sol", decidi publicar o 8. Nessas últimas três semanas tenho passado todo meu tempo livre corrigindo, e acho que li uma quinze vezes. Ontem finalmente não encontrei nenhum erro. Isso quer dizer que ele está pronto - para ser corrigido por um profissional. (Mas não tenho verba para isso ainda. Vou registrá-lo e depois vejo isso. 

Agora tenho que correr atrás do meu projeto no catarse para arrecadar verbas para publicá-lo.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Sobre a teoria das cordas.


O homem está sempre em busca de desvendar como surgiu o universo. Depois da teoria do Big-Bang, que diz que o universo surgiu de uma grande liberação de energia parecida com uma explosão – e convenhamos que isso não explica nada, inventaram a teoria das cordas.

Calma, eu explico. Segundo os cientistas que estão tentando provar essa teoria, tudo seria feito de um “fiapo de energia” – as cordas.
O que achei absurdo nessa teoria logo que soube de sua existência é que eles diziam que as cordas eram a menor coisa que existe no universo, um único tipo de energia que ao vibrar de forma diferente forma tudo o que existe. Não parece ficção científica? Se bem que ficção é bem mais explicado.

Não era só uma equipe que formulava essa teoria, eram muitas, cada uma com uma leve diferença; e recentemente todas foram unidas e transformadas na teoria do tudo, que se provada, explicaria não só como surgiu o universo, mas também coisas como viajar no tempo e provar que existe a quarta dimensão. Aliás, essa teoria do tudo aumentou o número de dimensões existentes. Como assim? Eu que não acreditava nem na existência da quarta dimensão (Para quem não sabe, a quarta dimensão seria o tempo).

Depois de muito tempo acreditando que existem dez dimensões, recentemente aumentaram para onze. Teve até um documentário sobre isso onde com o auxílio de efeitos especiais, tentavam explicar a teoria. É uma pena que eles nunca vão provar isso, pois num filme pode usar muitos meios para causar uma ilusão de ótica e nos fazer acreditar que um plano como a tela de uma tevê ou de cinema tem profundidade; mostrar um carro vindo do fundo da tela. Sinto dizer que isso tudo é ilusão. São flames (fotos de duas dimensões) substituídos um pelo outro, vinte e quatro flames em um segundo. Não são outras dimensões extras.

O fato é que pensando assim, acharam que o universo é como uma tela de tevê ou cinema. (Achei que cientistas e físicos fossem os seres mais inteligentes que existiam na atualidade).

No começo, eles achavam que as cordas eram como anéis de energia. Depois de muitos estudos (e acho que por não conseguirem entender como anéis soltos formavam tudo o que existe), eles disseram que havia também as cordas abertas – como pequenos pedaços de linha feitos de energia. Agora vem a parte mais absurda da teoria:

Segundo eles, esses pequenos pedaços – os que não tem forma de anéis, se dilatavam e formavam membranas; tão gigantescas que eles acham que cada membrana dessas é um universo. Milhões – ou pior - um número infinito de universos que formam o multiverso.
Tem noção do absurdo contraditório deles? “As cordas são a menor coisa que existe no universo” e no entanto uma pode se dilatar e ser todo o universo (que não conhecemos nem dez por cento dele). Como assim? Todo esse universo, com todas as estrelas e galáxias, e os zilhões de zilhões de átomos que o formam, dentro de uma membrana que é apenas um fiapo de energia dilatado?

E o pior é que eles esperam provar isso nos próximos anos. Dá para imaginar todo o universo sendo apenas flames, membranas de energia?

Eu me pergunto se esses caras são cientistas mesmos, ou programadores de jogos virtuais? Por que isso que estão tentando provar, é um universo virtual ou hologramas, tudo feito de uma única forma de energia e que caberia em um disco rígido de um computador qualquer. E eu pergunto: Dá para levar essa teoria a sério?


sábado, 7 de fevereiro de 2015

Namoro na tevê.


Sabe aqueles programas de televisão que exibem pessoas solteiras tentando arrumar um parceiro sentimental? Eu sempre me perguntei por que as pessoas se permitiam expor seu fracasso amoroso para todo o país. Eu via um bocado de pessoas bonitas, mulheres resolvidas, caras bem de vida. Eu não acreditava que eles não pudessem resolver a situação na própria cidade. Eu achava que aquilo tudo era armação (claro que tem um pouco de armação em alguns programas, principalmente nos da atualidade).

O fato é que eu não entendia, pois é tão simples ficar com alguém. Eu só vim entender há uns seis anos atrás. Meus conhecidos, pessoas próximas a mim se encontravam na mesma situação. Mas, o que leva a isso? Por que apesar de ter tanta gente, algumas pessoas não conseguem um relacionamento sério que termine em casamento?

Eu observei que tem a ver com as atitudes. Pessoas que namoram demais parecem perder a credibilidade. Outros querem um relacionamento onde continuem como solteiros, e geralmente terminam sozinhos. Eu observei que a maioria dos meus conhecidos começaram a namorar, vacilaram e a menina engravidou. Quase todos se juntaram por causa disso. Os mais inteligentes(Desculpem achar burrice, eu sei que precisamos nos reproduzir, mas acho que deve ser uma coisa planejada) namoram um tempo e terminaram os namoros, namoraram de novo e nem assim todos se casaram.

Eu achava que as meninas feias tinham mais dificuldade de encontrar alguém, mas eu vi que na realidade é bem equilibrado. As minhas conhecidas que se cuidavam e se produziam menos, hoje as que não estão morando com alguém ao menos tem filhos, e as mais belas (não todas, que fique claro) ainda estão procurando alguém. Um dia desses encontrei uma e ela foi logo me perguntando se eu tinha casado. Quando respondi que não, ela riu e disse que ela e a amiga também tinham ficado para titias, e eu me defendi: eu ainda não passei da idade de casar! (Não devia ter dito isso, a coitada fez uma cara, que eu tive que mudar logo de assunto).

Mas a verdade é que estou no mesmo barco, afinal passei dos trinta. Eu tenho observado nos últimos anos como é a vida. Vejo adolescentes se juntando (por causa da gravidez das meninas), mas confesso que sinto um pouco de inveja. Se eu não pensasse tanto, se não planejasse tanto, já teria filhos. Podia até está no sufoco, não ter conseguido construir minha casa, mas teria minha família, já seria pai, e não o filho.  Às vezes quando vejo um desses casais me pergunto “o que foi que essa menina viu nesse cara? Eu sou mais bonito, eu tenho trabalho, tenho uma casa”.

Acho que agora entendo bem por que algumas pessoas vão para programas do tipo namoro na tevê. Por mais que tenha pessoas de sexualidades opostas na nossa cidade, fica cada vez mais difícil olhar para uma delas e dizer para si mesmo que é ao lado daquela que eu quero envelhecer. Acho que a facilidade de fazer sexo está estragando tudo. Não sei se é o fato de ter passado dos trinta, mas sexo agora parece tão pouco importante quando penso em alguém. Acho que me acostumei com os muitos dias sem sexo, e a facilidade de saber que até mesmo na rua em que moro, tem alguém com quem pode rolar de vez em quando. Ou então que basta sair e a possibilidade de acontecer passa dos cinqüenta por cento. Aquela estória de “quem procura acha” se encaixa direitinho para o sexo. Conheço algumas solteiras, mas não rola entre nós um sentimento suficiente para um relacionamento sério. Acho que se fossemos morar juntos, não duraria seis meses.

É estranho como quando a gente é adolescente parece que se apaixona todo dia; mas depois de virar adulto, as pessoas parecem ser tão comuns, e geralmente só despertam o desejo sexual. Ou então, quando você se interessa por alguém, descobre que já é comprometida.

Mas amor é diferente. É você querer dividir seu tempo com outra pessoa, construir coisas juntos.

É quando você vê crianças e você se sente um fracasso, por não ter ainda filhos (mesmo já tendo passado dos trinta), que você reconhece que alguma coisa não está certa. Achei que era drama de uma amiga minha, mais ela tinha razão. Às vezes eu penso que estou esperando demais. Vai ver eu cheguei ao ponto onde pessoas nessa situação se inscrevem num desses programas para tentar encontrar a sua cara-metade.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Músicas descartáveis.


Antigamente era muito difícil conseguir gravar um disco. Mesmo antes da fabricação de discos e fitas, era difícil ser cantor ou cantora. A música era algo levado a sério, tinha que ter uma bela voz, ter muita técnica vocal para poder cantar em rádios e ficar famoso. Até mesmo as composições precisavam falar de algo que tivesse verdade, sentimento. Mesmo as marchinhas de carnaval, ou as músicas populares cantadas em reuniões familiares e festas religiosas, tinham alguma importância.

Hoje em dia a coisa é bem diferente. Uma mesma base pode servir para muitas músicas, e qualquer um pode fazer sucesso. A prova disso é o Funk e a Swingueira. Músicas que são mais para dançar, mas que são as mais descartáveis que existem. Menos importante que o Aché music, que era ainda menos importante que as marchinhas carnavalescas. Músicas feitas apenas para uma estação, o verão ou o carnaval.

Tirando as marchinhas de carnaval, as outras músicas no Brasil antes de existir a televisão eram muito importantes, românticas de verdade, mesmo que fossem bregas ou as sertanejas. Se você pesquisar as músicas antigas, verá quanto sentimento elas expõem. Mesmo sem a variedade de arranjos possíveis hoje, elas são belas.
Com a chegada da televisão no Brasil, as coisas começaram a desandar. Lentamente a tevê transformou as pessoas em mais consumistas do que eram, e não só para os produtos anunciados por ela, mas em tudo; ou melhor dizendo, transformou tudo em produto. Teatro, esportes, músicas – para a televisão são só produtos.

Quando surgia um estilo no Brasil, como o rock’n’roll puro dos anos sessenta, a tevê logo o transformava em um produto para prender a atenção do povo. E o pior é que ninguém percebia isso, afinal é bom está informado das novidades, saber o que anda acontecendo no mundo. E a partir daí, tudo que surgia ou virava modinha e ia logo para a tevê, ou era um movimento cultural que também acabava na televisão. Mas a culpa não é do Brasil, é exclusiva da televisão; está acontecendo no mundo inteiro onde a tevê tenha liberdade para apresentar o que quiser.

Até o começo dos anos oitenta, televisão era um artigo de luxo, coisa da classe média ou alta, o país estava bem atrasado, ainda saindo da ditadura, e o rádio era o meio principal de divulgar músicas, e era muito difícil. Os lançamentos eram bem definidos por estações. Tinham bandas que lançavam para o são João, outras para o verão e o carnaval. A MPB era formada pelos famosos, os que tocavam nos rádios o ano todo; os que tinham músicas em novelas ou em algum outro programa da tevê. Os cantores e bandas passavam três anos para gravam um novo disco. Até então não se notava o efeito devastador que a tevê vinha causando à cultura.

Foi nos anos oitenta quando muitas tevês foram vendidas para a população, que as emissoras de televisão começaram a lutar por audiência, e por isso tinham que mostrar coisas novas. E foi a partir daí que começou a pegar os movimentos musicais e tirar proveito deles. Eu era criança na época do rock brasileiro (bons tempos aqueles) e as bandas como RPM, Legião, Titãs, Paralamas e outras estavam sempre aparecendo na tevê. Mas ainda era difícil fazer música, e os jovens ainda tinham o sonho de ser um músico. Com a tevê transformando música em produto, a maioria dos jovens daquela época começaram a fazer música para ganhar dinheiro. 

Tinha surgido o Axé music anos atrás, ritmo dançante para o carnaval da Bahia, e então os jovens começaram a inventar modinhas, e veio o novo sertanejo, o pagode, e não demorou para vir os dois ritmos mais descartáveis da estória: A Swingueira, e anos depois o Funk. Sem falar nas muitas modinhas “alguma coisa universitário” – como o forró pé de serra, o sertanejo, e etc. E outras que tentam renovar o rock, como o movimento Emo. Música virou um produto. Bandas e cantores passaram a gravar CDs todo ano, DVDs, shows ao vivo, etc.

Voltando um pouco no tempo; quando surgiu o Axé music, era música para um carnaval, mas não eram tão insignificantes como as de Funk e Swingueira. Mesmo quem não gosta de Aché music, deve se lembrar ainda de algumas músicas do Chiclete, Asas de águia, Jamil, e outras bandas daquela época. Já as músicas de Swingueira e Funk de hoje em dia, você não lembra delas quando se passa dois anos, são totalmente descartáveis. (Eu já vi minhas sobrinhas que gostam de rebolar ouvindo Swingueira reclamar porque a música que estava rolando numa festa era do ano passado). Algumas músicas são tão descartáveis, que somem logo depois do carnaval. São músicas para dançar, mas não são como as músicas da discoteca ou as marchinhas antigas, nem o Aché dos anos oitenta; as músicas desses dois ritmos tem uma coreografia quase pornô, movimentos repetitivos de pessoas rebolando e simulando sexo.

Eu me senti ofendido quando um apresentador comparou o sucesso de um funk (acho que era aquele do lek, lek, lek) com o sucesso que um dia fez o Tom Jobim. É vergonhoso que alguém compare qualquer música do Tom Jobim (com arranjos incríveis) a um funk que é uma repetição de pouca criatividade. E isso não é culpa exclusiva da televisão, a internet tem a sua parcela. As pessoas não percebem que o consumismo acaba com a beleza das coisas, que ao pedir essas músicas no rádio, estão tirando o espaço de grandes músicos como Djavan, Caetano, Roberto e muitas bandas boas.

O problema é que estamos cada vez mais consumistas e com a facilidade surgem centenas de bandas a cada ano. Às vezes algumas delas se destacam não pela música, mas pela dança diferente do clipe dela. Hoje em dia, as pessoas vão a shows não para curtir a música, mas para sair de casa ou tentar encontrar companhia. O ruim disso tudo, é que, com a falta de espaço, as bandas que antes queriam levar mensagens, contar estórias interessantes; estão tentando ser popular, fazer um som que role na tevê, e é muito difícil hoje encontrar uma banda ou cantor que não esteja fazendo música descartável.

Não estou julgando a qualidade das músicas, mas no geral, as músicas de hoje em dia não passam muita verdade. Acho que no futuro as pessoas ainda escutarão mais músicas das décadas de oitenta e noventa do que dessa época de 2000 aos dias de hoje.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A escravidão acabou mesmo?

Será que hoje em dia só existe escravidão nas fazendas e fábricas clandestinas? Será que a escravidão acabou? Não, a escravidão nunca acabou de verdade, só mudou de nome. E pior, se apoderou de todo mundo.

A vida dos escravos era um sofrimento, como vemos em filmes e novelas que abordam esse tema. Um escravo não podia ir para onde quisesse, não tinha nenhum tipo de liberdade. Dormiam em lugares desconfortáveis, se alimentavam mal, usavam roupas feitas de tecidos bem ruins e sem beleza, trabalhavam muitas horas por dia, e não podiam sair para passear, ou se divertir. (Alguma comemoração era realizada “dentro de sua prisão”). Eram negros e por isso eram tratados como se não fossem humanos. (Onde estava a religião nesse tempo? Será que eles não conversavam com Deus para saber que os negros também tinham alma? Por que não impediram isso?).

Mesmo estando presos em seus cativeiros, os escravos tentavam viver suas vidas, então se juntavam e tinham filhos, que também eram escravos, e podiam até ser vendidos e separados de sua família. Hoje em dia acreditasse que a escravidão acabou, que só há casos isolados, como aparece nos jornais uma vez ou outra. Mas, será que acabou mesmo?

Salário mínimo seria o novo nome da escravidão?
A maioria das pessoas trabalha o mês inteiro para ganhar um salário mínimo. Só que um salário mínimo não dá para um cara ter uma casa, uma mulher e dois filhos. Não dá para comprar comida, roupa, pagar água e luz e ter um mínimo de conforto. Então como viveria uma família assim com um salário mínimo: comprariam as roupas mais baratas que encontrassem, comeriam o básico para matar a fome, morariam e dormiriam num lugar não tão confortável. Não seria muito diferente da vida que os escravos tinham, não é mesmo?

E você diria, “ah, mas eles tem liberdade”... Não, não tem. Eles não podem sair para visitar familiares que moram longe, ou ir a um show ou parque temático, pois além de precisar trabalhar, não tem dinheiro para as despesas. Tá, mas e as ajudas, o bolsa família, as horas extras que ele pode fazer? Isso não traz liberdade para eles.

Hoje em dia o máximo de pessoas de uma família tem que trabalhar para viverem de uma forma confortável. E não são só pessoas negras, a escravidão prendeu todo mundo. Temos a falsa sensação de liberdade, mas somos escravos do trabalho, dos impostos, das leis. Não pense que um cirurgião plástico é mais livre que um gari por ganhar bem. Ele passou muito tempo preso aos estudos para chegar onde chegou, e ainda está preso a profissão dele. E os aposentados, eles são livres? Será que são? Será que vivem bem, se alimentam bem, podem fazer o que quiserem?

Um cara monta uma empresa, e acha que vai ter liberdade para fazer o que quiser. Mas, ele apenas está organizando um grupo de funcionários que acham que trabalham para ele. O fato é que todos estão escravizados. A diferença é que quanto mais se ganha, menos se nota a escravidão. Um cara que ganha um salário, nas férias ele não pode curtir a vida, pois um salário não daria para uma família sair de férias. E o patrão, que ganha muitos salários, tem os compromissos dele; com os compradores, os funcionários, os fornecedores. Dá para afirmar que alguém é livre de verdade? Se compararmos como era a vida de um fazendeiro dono de muitos escravos com a vida de um dono de uma empresa hoje em dia, veremos que o fazendeiro vivia melhor. A mulher e os filhos do fazendeiro não precisavam trabalhar.

E mesmo a escravidão tendo assumido esse "modo camuflado" ainda existe escravidão mais cruel ainda do que aquelas que tratavam os negros como animais de trabalho. Em vários países, escondido das religiões e das leis (ou não), vai saber?