quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

História 005 - Glória

  Glória (Histórias do orfanato raio de sol)
                                                  Neto Sanville



_______________________________ Parte 01

     Era um pouco mais de quatro horas da tarde da primeira quinta feira de dezembro de mil novecentos e oitenta e seis. A Irmã Penélope saiu da cozinha e Fernanda se aproximou de glória e disse quase num sussurro:
- O que está acontecendo com você? Faz três dias que você está assim. Não adianta dizer que está bem, pois não está mesmo!
- Nanda, eu... Não posso falar sobre isso.
- A Terezinha está aprontando alguma? Me conta, eu acabo com ela!
- Não! Tá bem, o meu irmão... desde que ele começou a trabalhar que ele tá com uma ideia da gente fugir...
- O quê? Isso é loucura!
- Eu sei...
- E pra onde vocês vão? Não, vocês não podem fazer isso.
- Ele disse que se eu não for junto, talvez nunca mais o veja, que ele vai sozinho.
- Glória, vocês não podem sair daqui assim... Vocês só tem quinze anos. Como é que vocês vão viver?
- Eu não sei. Na verdade, no começo achei que fosse uma boa idéia, mas agora começo a ficar com medo.
- Mas... Quais são os planos dele? Quer dizer, vocês vão simplesmente sair por aí?
- Eu vou tentar conversar com ele de novo. Ele está tão decidido... Olha, por favor não conta a ninguém.
- A quem eu contaria? Depois que a Anabela foi embora, você é a minha única amiga.
- Eu não quero mais falar nisso.
- Está bem, mas saiba que pode contar comigo.
     A Irmã Penélope voltou e elas continuaram a descascar as verduras para a sopa em silêncio. No outro dia de manhã, enquanto cuidavam do jardim; Fernanda perguntou como ela estava e ela disse que ainda não tinha conversado com o irmão. Fernanda foi ajudar a Irmã Júlia a cuidar de uma pequena órfã que caiu e estava chorando, e Terezinha se aproximou de Glória, que fingiu não vê-la. Terezinha falou em tom provocativo:
- Eu vou descobrir o que vocês duas estão tramando. Eu percebi que tá acontecendo alguma coisa, e eu vou descobrir o que é.
     Glória fingiu que não escutou, e Terezinha falou que ia ficar de olho nelas, e saiu. Glória pensou que ao menos quando fugisse, não precisaria mais conviver com Terezinha, isso seria uma coisa boa.
     Depois do almoço Glória se aproximou do irmão que estava sentado na calçada, ao lado da porta do orfanato, olhando alguns dos órfãos jogando bola no jardim. Ela sentou ao lado dele e disse quase num sussurro:
- E então, Bruno; pensou melhor?
- Tá decidido, Glória. Vou receber amanhã à tarde, mas não vou voltar pro orfanato. Você me encontra onde eu falei e a gente vai embora daqui.
- Bruno, eu tô com medo...
- Glória, eu já falei que é melhor assim. De qualquer forma, a gente vai ter que sair daqui mesmo e cuidar das nossas vidas...
- Mas, isso é daqui a quase três anos...
- Temos que ir amanhã.
- Mas... A gente não tem nem muita roupa... E os nossos documentos que estão com a Madre? E como é que a gente vai estudar?
- Isso tudo a gente resolve com o tempo. Olha, não precisa ter medo. A gente não vai morrer de fome. Tá, eu sei que vai ser difícil no começo, mas... Eu vou trabalhar em qualquer coisa se o nosso plano não der certo. Até você pode trabalhar. A gente vai se virar.
- Não sei, eu tô com muito medo.
- A maior parte das minhas roupas já tão no trabalho. Separou mais algumas suas para eu levar na minha mochila e deixar lá junto com as outras?
- Separei. Também não temos tanta roupa assim.
- Então, tá quase na hora de voltar para o trabalho. Vai lá pegar, que eu vou passar com a mochila.
     Ela se levantou e saiu. Ele saiu um pouco depois, e quando voltou que encontrou com ela na sala principal, sentou ao lado dela. As Irmãs não vigiavam os dois, pois eram irmãos gêmeos e viviam juntos. (Fato que impediu seis vezes deles serem adotados, pois as famílias que vieram, não quiseram separá-los). Discretamente ela tirou algumas peças de roupas de debaixo da blusa e ele as colocou na mochila e saiu para trabalhar. Ele se levantou e foi embora, e quando ela olhou para o lado, viu que Terezinha a encarava.



_______________________________ Parte 02

     Era duas e meia. Um casal tinha chegado há poucos minutos, e Glória já os tinha visto duas vezes. Certamente iriam sair com um dos órfãos. Ela apostou consigo mesma que deveria ser o Thiaguinho ou o André, ambos meninos brancos de oito meses. Se surpreendeu quando eles saíram levando Natália, uma menina negra e gordinha de seis anos. Ficou feliz por ela ter conseguido ser a escolhida. Terezinha se aproximou e falou:
- Tá vendo, ela também é negra, e foi adotada! E olha que ela é gorduxa! Já você, ninguém te quis, mesmo sendo magrinha...
- E você? Já se perguntou por que nunca foi escolhida por ninguém? Talvez as pessoas olhem para você e enxergue a sua ruindade.
- Eu vi você passando alguma coisa para o seu irmão. Sabia que eu posso contar a Madre? Amanhã é o dia de lavar os banheiros...
- Faça o que quiser, sua fuxiqueira. Vai lá contar a Madre!
- Eu vou só esperar descobrir o que você tá aprontando, aí eu entrego para a Madre, sei que o castigo vai ser bem maior!
     Fernanda chegou e perguntou “o que tá acontecendo aqui” e Terezinha disse que ainda não sabia, mais assim que descobrisse, ia contara a Madre, para que as duas fossem castigadas. Fernanda mandou ela deixar as duas em paz, e ela saiu cantando “Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, música que estava fazendo sucesso no rádio e na televisão, que há duas semanas ela cantava para irritar os outros órfãos; os que eram negros. Fernanda perguntou:
- O que ela queria?
- Ah, Nanda; o de sempre, me irritar. Ela viu eu entregando uma roupa para o Bruno, mas ela não sabe de nada ainda.
- Então você vai mesmo fugir com ele?
- É meu irmão. Eu não posso deixar ele ir sozinho.
- E quando é que vocês vão? Já sabe?
- Amanhã à tarde.
- Amanhã?!? Nossa, eu pensei que ainda ia demorar.
- É por isso que eu tô tão nervosa...
- Nossa... E eu te achando triste, achei que era tristeza, não preocupação...
- Na verdade, estou triste sim. Muito triste...
- Você gosta daqui?
- Ah, vivo aqui desde que me lembro. Não, não gosto. Mas não sei o que vai ser da minha vida. E...
- E?
- Eu tô gostando de um menino... Pronto, falei.
- Sério? E eu conheço? É daqui do orfanato?
- Não! Conhece, mas não é daqui do orfanato...
- Vai me contar, não vai?
- Nanda... É aquele que toca violão na calçada, naquela casa aqui perto.
- Mas... Você sabe que ele tá namorando?
- É, eu vi ele beijando uma loira há quatro dias atrás...
- Ah, por isso que eu notei que você tava triste...
- Pois é.
- E você conversou com ele alguma vez? Quer dizer, ele ao menos sabe que você existe?
- Acho que não. Quer dizer, às vezes os nossos olhos se encontravam quando eu passava voltando da escola e ele tava na calçada, mas nunca nos falamos.
- E agora ele tá namorando... Puxa, que triste.
- Ah, eu já desconfiava que não teria chance, mas... Agora fico pensando que vou estar longe e nunca mais o ver... Ontem pensei que seria bom fugir, esquecê-lo; mas hoje acordei triste demais.
- Talvez você não deva fugir...
- Eu preciso. Não posso abandonar o meu irmão...
     A Irmã Júlia apareceu e chamou as duas para ajudarem na decoração natalina.



_______________________________ Parte 03

     O sol estava quase se pondo. Na sala principal do orfanato, alguns órfãos recortavam e colavam os enfeites natalinos. Terezinha estava com a Irmã Diana dobrando as roupas dos órfãos que elas tinham apanhado do varal. A Irmã Diana separou todas as roupas e as duas saíram levando as roupas para os guarda-roupas dos órfãos. Terezinha estranhou a pouca quantidade das roupas de Glória, principalmente porque não viu entre elas a blusa laranja nem a rosa, que ela cobiçava tanto. Fez questão de colocar as roupas dela dentro da cômoda que havia ao lado da cama dela, e se surpreendeu ao ver a cômoda dela quase sem roupas. Se perguntou o que estava acontecendo.
     Quando Terezinha estava indo jantar, encontrou Glória no corredor principal e falou:
- O que você está tramando? Eu vi que as suas roupas não estão na cômoda.
- Você foi espionar a minha cômoda?
- Não, só fui levar as roupas que estavam no varal, pois faço bem as minhas tarefas, ei, não mude de assunto, onde estão as suas roupas? Por que não estão na cômoda?
- Isso não é da sua conta.
- Eu vou contar a Madre!
- E eu digo que não sei de nada.
- Ela vai fazer você falar!
- Ah, não enche.
     Glória saiu em passos rápidos e Terezinha ficou sem saber o que fazer. Deveria ir logo contar a Madre, ou jantar? Decidiu jantar primeiro. Durante a janta, viu que Glória e Fernanda conversavam sussurrando e teve certeza de que algo estava acontecendo. Quando terminou de jantar, correu para a sala da Madre, e se surpreendeu com a Irmã Adelaide saindo de lá. Ela disse que a Madre estava repousando, Não estava se sentindo bem e que não devia ser incomodada. Perguntou se era importante, e Terezinha demorou a responder, então ela disse que Terezinha voltasse de manhã.
     Era costume os órfãos assistirem tevê depois do jantar. Podiam assistir a novela das sete e o telejornal que vinha depois, e então tinham que irem dormir. Terezinha preferiu ficar no quarto lendo a Bíblia.
     Quase nove horas Fernanda e Glória entraram no grande quarto com seis beliches que agora era só das três. Terezinha dormia no último beliche, e as duas nas camas de baixo dos dois primeiros; mesmo assim elas caminharam até o fim do quarto. Terezinha parou de ler quando notou que elas se aproximavam. Fernanda falou:
- E então, contou a Madre? Ganhou uma estrelinha?
- Não contei ainda, parece que a Madre está doente, eu não quis incomodá-la com notícias ruins, mas amanhã logo cedo eu conto.
- O que a Madre tem?!?
- Não sei, Adelaide não quis me dizer. Você sabe que vai se dar mal ajudando a Glória, né Fernanda?
- Não. Quem vai se dar mal é você se contar alguma coisa a Madre!
- Ora, vocês fazem coisas erradas, e querem que eu ignore?
- Terezinha, caso você tenha esquecido aquela conversa que tivemos há menos de um mês, eu vou refrescar a sua memória: Eu sei seu segredo!
- Você falou que não ia contar a ninguém!
- Se você nos deixasse em paz. Ainda não contei a ninguém, mas se amanhã você falar alguma coisa para a Madre, eu vou contar para todo mundo.
- Então você sabe o que a Glória tá tramando... Peraí, você faz parte também? Vocês vão se ferrar quando a Madre descobrir!
- Você nem pense em falar com a Madre...
- Pode deixar, eu não vou falar. Mas eu sei que ela vai descobrir, mentira tem perna curta! E eu vou adorar quando isso acontecer.
- Quer saber? Melhor a gente ir dormir. Não vale a pena perder tempo com você.
- Poderiam ler a Bíblia, rezar... Pensar nos pecados que cometem...
- Eu vejo você ler a Bíblia toda noite, e grande exemplo de pessoa você é.
     As duas foram para as suas camas e Terezinha voltou a ler.


  
_______________________________ Parte 04

     O dia estava meio nublado. Era nove e meia da manhã. A Irmã Adelaide pediu um voluntário para ir na farmácia mais próxima comprar um xarope para a Madre, e Glória se ofereceu. O coração estava acelerado, ela sabia que nesse horário era grande a chance do rapaz que tocava violão na casa de paredes cinza está na calçada. E estava. Lavando a bicicleta, só de calção e sandálias.  Calção laranja, havaianas brancas. Ela desacelerou os passos, mais o coração só acelerava mais. Estava bem perto quando ele olhou para ela e os olhos se encontraram, mas os deles não parou nos dela como ela esperava. Ele nem olhou para ela, continuou lavando sua bicicleta, e ela continuou andando. Ainda olhou para trás duas vezes, mas ele não olhava para ela.
     A farmácia era logo na primeira esquina e ela quase não demorou. Pensou que talvez na volta tivesse a chance de falar com ele. A última chance na verdade. E nem sabia o que dizer, só queria conversar, nem que fosse perguntar se ele achava que ia chover.
     Quando dobrou a esquina, teve uma surpresa desagradável. Lá estava a loira, toda de rosa. De longe parecia até que era uma das paquitas da Xuxa. Glória quase chorou de raiva e de decepção, pois ao passar por eles, foi como se fosse invisível.
     Chegou no orfanato e pouco depois contou a Fernanda o que aconteceu, e disse que mesmo assim, ainda sentia muito em fugir e ficar longe dele, de não o ver mais, de não ouvir mais ele tocando violão, as músicas daquela banda de rock que era o maior sucesso, a Legião Urbana... E que toda vez que ouvisse iria lembrar dele.
     Passou quase uma hora, Fernanda estava no jardim, pensativa. Sabia que ela iria fugir às duas e meia para se encontrar com o irmão e sumirem no mundo. Será que não deveria impedir essa loucura? Pensou mais um pouco. O único jeito de impedir era contando a Madre. Tinha que fazer alguma coisa, e decidiu ir conversar com a Madre. Poucos minutos depois estava na porta da sala da Madre. Quando atravessou a porta, ficou com medo. Glória era a única amiga, mas poderia passar a ignorá-la se fosse traída. Era melhor ter uma amiga distante do que alguém magoada por perto. E se fosse o contrário, perdoaria a amiga? Não. Então não podia contar. A Madre quebrou o silêncio:
- Diga menina, o que veio fazer aqui?
- Ah! Sim, claro... Eu soube que a senhora estava doente, e não lhe vi hoje, fiquei preocupada...
- Obrigada pela visita, estou bem melhor. Só preciso descansar.
- E eu lhe abusando... Desculpe então. Só vim ver se a senhora estava bem.
- Sim, estou. Está acontecendo algo?
- Não. Tudo bem. Eu vou voltar, estamos terminando de decorar o orfanato. Está ficando bem bonito.
- Que bom. Depois vou ver.
- Tá. É só isso. Com licença
     Fernanda resolveu ajudar na decoração para passar o tempo, e quem sabe diminuir a preocupação que sentia.
     Era quase hora do almoço. Glória foi para o quarto e ao entrar, viu que Terezinha estava olhando as gavetas da cômoda. Terezinha riu e disse:
- Engraçado, hoje tem menos roupa ainda. Só as mais velhas, para falar a verdade.
- E você pode ficar com elas para você, já que está aí namorando elas!
- Isso aqui só serve pra pano de chão. O que tá acontecendo então?
- Tá, vamos fazer assim; você me conta o seu segredo, e eu te conto o meu.
- Ora...
- Ah, me esquece! Vai cuidar da tua vida e me deixa em paz.
- Eu vou, mas escuta o que eu te digo, seja o que for que você tá planejando, você vai se dar mal. Depois não diga que eu não avisei.
     Terezinha saiu e Glória pensou: “Ainda bem que ao menos eu vou ficar livre dessa peste”.
     Depois que almoçaram, Fernanda e Glória ficaram no jardim. Alguns órfãos e duas irmãs faziam a decoração natalina do jardim. Gloria disse quase num sussurro:
- Vou sentir sua falta.
- E eu a sua. Nossa, vai ser insuportável ficar só com a Terezinha naquele quarto.
- Mas tem umas três meninas que logo vão completar doze anos...
- Tem certeza que vai mesmo fazer isso?
- Não dá mais pra voltar atrás. Eu quero, acho que é melhor, pra falar a verdade. Não esquece o que combinamos, depois que eu sair, tenta segurar a Terezinha por um tempo, se for preciso. Vou tentar sair sem ela me ver.
- Eu tive um sonho ruim... Acho que o medo do que pode acontecer... Por favor, se acontecer qualquer coisa, liga aqui para o orfanato.
- Não se preocupe... A gente vai se virar... E depois eu vou te escrever. Você é uma grande amiga.
     Se abraçaram, e seguraram as lágrimas, e logo se separaram para que os outros não percebessem que estava acontecendo alguma coisa.
     Era duas horas e dez minutos quando Glória se aproximou da Irmã Júlia e disse:
  - Irmã, queria falar com você...
- Pode falar, Glória.
- É que... O meu irmão me deu dinheiro pra eu comprar um shampoo... Daqueles que deixa o cabelo mais fácil de pentear... Será que a Madre deixa eu ir comprar aqui no mercadinho? Tô com medo de falar com ela...
- Hum... Acho que você pode ir. É no mercadinho aqui perto?
- É. O meu cabelo é tão ruim de pentear...
- Está bem, pode ir.
- Obrigada.
     A irmã Júlia voltou a se preocupar com a decoração natalina. Glória piscou para Fernanda, olhou para os lados e não viu Terezinha. Abriu o portão e saiu. Fernanda se juntou aos outros órfãos que decoravam o jardim.
     Passou um pouco mais de uma hora, e Terezinha apareceu no jardim que a essa altura já estava quase todo decorado. Não custou muito e ela viu que Glória não estava ali. Era a chance de descobrir o que ela estava aprontando, então foi procurá-la no quarto. Vasculhou o orfanato todo e não a encontrou. Voltou ao jardim e perguntou a irmã Penélope, e depois a Irmã Júlia, que lembrou que ela tinha ido ao mercadinho, há mais de uma hora. A Irmã Júlia mandou Francisco (um dos órfãos, de dezessete anos) ir ao mercadinho, e quando ele voltou e disse que o dono falou que Glória não esteve lá, começaram a ficar preocupados. Terezinha gritou “ela fugiu, e a Fernanda sabe de tudo!”; mas Fernanda negou saber de alguma coisa. Terezinha insistiu “ela fugiu, por isso que não tem roupas na cômoda dela!”.
     A Irmã Júlia foi até o quarto e viu que quase não havia roupas na cômoda. Quando a Madre ficou sabendo, ligou para a oficina onde o irmão de Glória trabalhava e descobriu que ele tinha saído mais cedo, depois de receber o salário do mês. Ela desligou, olhou para a Irmã Júlia e disse:
- Céus, eles fugiram! O que está acontecendo aqui? O que há de errado com essa geração? Damos um pouco de liberdade, confiança para eles terem um futuro e eles estragam? Meninas grávidas, crianças fugindo... Estamos perdendo o controle.
- Calma, Madre... A senhora acha que devemos avisar a polícia?
- Sim. São crianças!
     Terezinha interrompeu, dizendo que achava que Fernanda sabia de alguma coisa, pois viu as duas conversando muito nos últimos dias. A Madre mandou chamar Fernanda e conversou com ela, que disse que não fazia idéia dos planos de Glória. A Madre mandou todo mundo sair e ligou para a polícia. Depois a Madre comunicou a todos que o que podiam fazer agora era rezar e esperar.
     Passou o resto do sábado, e no dia seguinte, quase dez e meia, o telefone tocou. A Madre atendeu:
- Alô?
- Madre, aqui é o Pequeno!
- Pequeno! Como estão as coisas?
- Está tudo bem com a minha família... Madre, Os gêmeos chegaram aqui no circo ontem à noite... Eles não sabem que estou ligando, eu sei que a senhora deve estar preocupada, mas...
- Eles estão aí?!? Você tem que os mandar de volta!
- Madre, eu conversei com eles hoje cedo. Eles não querem voltar. Me disseram que se eu não arrumar trabalho para eles aqui no circo, vão procurar noutro canto, mas não voltam pro orfanato...
- Eles são crianças, não tem querer. Eu até já comuniquei a polícia. Aonde o circo está?
- Perto, na Paraíba. Madre, me deixe conversar com eles, eu vou resolver.
- Espere. Pequeno, a lei e as regras do orfanato permitem que eles trabalhem, desde que continuem estudando até a oitava, pelo menos. Só que a Glória ainda ia fazer a oitava no próximo ano. Se você se responsabilizar por eles, eu vou achar bom. Saber que eles estão com você me deixa aliviada. Tenho medo de trazê-los e eles fugirem de novo.
- Madre, eu vou falar com o Wilson. O circo está mesmo precisando de mais palhaços, e eles levam jeito. Me mostraram um texto ontem bem criativo, eu ri muito.
- É, desde aquela vez que eles lhe viram no circo que eles brincam de ser palhaços, até se apresentaram aqui no dia das crianças esse ano como os palhaços Vareta e Caniço. E eles levam jeito.
- Então, eu vou ver o que posso fazer.
- Pequeno, obrigada por me ligar, estava muito preocupada, são só crianças.
- Madre, fique sossegada, resolveremos isso. Preciso desligar. Eu dou notícias.
     Ele desligou e a Madre ligou para a polícia e avisou que já tinha encontrado os gêmeos. Depois comunicou as outras irmãs, e disse que a partir de agora, todas deveriam ter mais cuidado para que essa cena não se repita.

                                                               
                                                                           Fim

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